O rock curitibano sem Ivo Rodrigues

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Assista a despedida que fãs e familiares concederam a Ivo Rodrigues

Agachada, desolada e disparando um olhar que apontava para o hall de entrada do Teatro Guaíra, em Curitiba, Daniele Regis guardava seu luto. O tênis All Star, a camiseta do fã clube Loba da Estepe e, principalmente, as lágrimas que borravam a sombra negra sob os olhos denunciavam: Ivo Rodrigues, vocalista da banda Blindagem, era quem estava sendo velado na manhã de ontem no saguão da­­quele espaço, símbolo da cultura paranaense.

Assim como os muitos fãs, amigos e parentes que compareceram ao velório do músico de 61 anos – morto às 22h50 da noite de quinta-feira, vítima de uma parada cardiorrespiratória em decorrência de complicações de um câncer (leia quadro nesta página) –, Daniele, fã da banda desde 1987, denuncia o vazio que surgiu com a partida de Ivo. O gaúcho de nascimento carregou o nome de Curitiba em suas músicas desde a formação da Blindagem, em 1969.

"É uma lacuna irreparável não só na música, mas na cultura do Paraná. Nossa função agora é manter viva a história do Ivo e da Blindagem", disse Daniele.

E não seria diferente em se tratando de Ivo Rodrigues. Apesar do céu cinza tipicamente curitibano, a música da banda – exibida em áudio e vídeo por meio de um DVD – en­­chia o saguão, que recebeu cerca de 500 pessoas até o momento em que o corpo do músico foi levado para o Cemitério Municipal, onde foi sepultado às 17 horas.

"O máximo de curtida para um mínimo de organização. Essa era uma frase que ele sempre repetia", lembrou o guitarrista da banda, Alberto Rodriguez. "Ele deixa muita saudade, mas nós ficamos muito felizes de ter tido o privilégio de conviver com ele".

Sinônimo do rock paranaense, a Blindagem nunca ganhou uma verdadeira projeção nacional – embora tenha vivido no Rio de Janeiro por algum tempo em busca de algo maior. Mas seus fãs, fiéis, são muitos e espalhados pelo mundo. "Em 1991, descemos em Milão para gravar um disco e um sujeito gritou ‘Ivo!’. Era um fã, que tinha ignorado outras pessoas famosas que estavam no avião e veio falar conosco", relembra Rodriguez.

O baixista Paulo Juk conversou com Ivo pela última vez no dia 31 de março. "Não deixa essa banda parar", teria dito Ivo, que, mesmo quando estava em tratamento, dava suas escapadas para acompanhar os shows da Blindagem.

"Pato" Romero, o baterista, definiu a morte de Ivo como uma mudança de estágio. "Ele passou de uma fase para outra porque precisava ficar melhor", disse o músico. O "irmão" Paulo Teixeira, também guitarrista, definiu Ivo como um "grande lutador e um cantor profissional muito dedicado". E todos avisam: a banda continua. Rodrigo Vivazs, também integrante do grupo The Elders, é o novo vocalista.

Muito emocionados, os filhos Ivan e Ângela e a esposa Vera Lúcia apontaram a força artística do pai. "Ele foi uma lição de perseverança. Essa é a lição que fica", disse Ivan, baterista das bandas Mordida, Giovanni Caruso e o Escambau e Magaivers.

A perda de Ivo foi sentida também pelos roqueiros mais jovens. Enquanto era possível observar um jovem e típico f㠖 jaqueta de couro, cabelos compridos e óculos escuros –, permanecer triste e pa­­ralisado por cerca de uma hora na porta de entrada do Teatro, integrantes da banda Boca Maldita vieram dar o seu adeus.

"A Blindagem era nossa grande inspiração. Tocamos com eles algumas vezes e só lembramos de coisas positivas. A vibração era muito boa. Os dinossauros do rock de Curitiba vão fazer falta", comentou o guitarrista Marcelo Vieira.

Ao lado do caixão de Ivo Rodrigues, estavam uma rosa vermelha e uma baqueta quebrada. Sobre o corpo, duas de suas paixões estavam representadas por objetos: na parte inferior, a bandeira do Coritiba. No peito, repousada perto do coração, sua inseparável gaita de boca, agora silenciada.