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Os atores Rosana Stavis e Zeca Cenovicz, em primeiro plano: Ifigênia atualizada | Elenize Dezgeniski / Divulgação
Os atores Rosana Stavis e Zeca Cenovicz, em primeiro plano: Ifigênia atualizada| Foto: Elenize Dezgeniski / Divulgação

Marcos Damaceno diz que escolhe quais textos vai dirigir por inveja. São exatamente aqueles que gostaria de ter escrito. As peças saídas de fato de sua mente ainda são poucas, apenas duas publicadas, Água Revolta e Para Luís Melo. Em outros casos, se apropriou das palavras desesperadas de Sarah Kane, em Psicose 4:48, ou da melancolia de Jon Fosse, em Sonho de Outono. Hoje à noite, o diretor estreia no Teatro Novelas Curitibanas um novo espetáculo com palavras emprestadas. Antes do Fim (confira o serviço completo do espetáculo) é a primeira peça de Marcelo Bourscheid, autor nascido em Cascavel. Foi escrita sob a tutela de Damaceno e do dramaturgo Roberto Alvim, nos encontros do Núcleo de Dramaturgia do Sesi Paraná.

Bourscheid dialoga com a tradição grega, a subvertendo para seu real interesse de falar do homem atual, com uma linguagem contemporânea. Debaixo das vozes que se entrecruzam em Antes do Fim, como sentimentos soltos no ar, perpassa o mito grego de Ifigênia, a filha de Agamenon oferecida ao sacrifício pelo pai, cumprindo ordens da deusa Ártemis. Indignada, a mãe da moça, Clitemnestra, trama o assassinato do marido. Electra, a outra filha, reage induzindo o irmão Orestes a vingar o pai assassinando a mãe.

Não foi, porém, a mitologia grega o maior atrativo para Damaceno realizar a montagem. Sua identificação inicial com a obra veio do trato com a linguagem: a precisão rítmica das palavras compondo a musicalidade capaz de se impor sobre os sentidos expressos.

Mais tarde, ultrapassou a linguagem. A espera pelo retorno de uma filha que abandonou o lar não era um tema completamente desconhecido para o diretor, que se mudou de São Paulo para Curitiba aos 11 anos, pouco após a morte da mãe, e passou, como caçula rebelde, pelas casas dos irmãos mais velhos. "Romper com a família muito cedo, para poder sobreviver...", reconhece-se Damaceno. "O rompimento é algo realmente necessário de tempos em tempos."

Para além da história familiar, o diretor notou em Antes do Fim uma característica comum a seus outros trabalhos. "Uma dificuldade muito grande que os personagens têm de se abrir com os outros, a indisposição ao convívio."

Cada vez mais intrigado pelo quanto o ambiente determina o temperamento e o comportamento humano, Damaceno identifica esses traços como próprios do Sul, e relata que em suas viagem pelo Palco Giratório, ao longo do ano, ouviu muitos espectadores ressaltarem a contenção e a melancolia como marcas de seus espetáculos.

Antes do Fim foge um tanto à regra da contenção quando se trata do cenário. Damaceno esparramou um caminhão de areia sobre o piso do Novelas Curitibanas, afundou cadeiras e soterrou portas, criando fortes simbolismos. Beto Bruel fez a luz, em tons frios, e Maureen Miranda, os figurinos.

A responsabilidade maior, no entanto, recai sobre os intérpretes, como Rosana Stavis e Zeca Cenovicz. "Trabalho exaustivamente com os atores, vírgula por vírgula, achando a pontuação mais adequada a cada frase", diz Damaceno. Diante de um texto que se arrisca a usar a linguagem com ousadia, cabe ao elenco encontrar um tom correspondente. "Requer um processo investigativo mais acentuado", diz o diretor. "A gente só vai descobrir fazendo, e estamos descobrindo ainda."

Serviço:

Antes do Fim (confira o serviço completo do espetáculo). Teatro Novelas Curitibanas (R. Carlos Cavalcanti, 1.222), (41) 3321-3358. Texto de Marcelo Bourscheid. Quinta a domingo às 20 horas. R$ 10 e R$ 5. Até 19 de dezembro.

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