O segredo é um “papo legal”

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O cenário é grandioso. Em um dos hotéis mais luxuosos de Curitiba, a dupla Fernando & Sorocaba recebe a reportagem da Gazeta do Povo. Há alguns seguranças e três ou quatro assessores na imponente sala onde a entrevista acontece. Ao apoiar as mãos sobre a mesa de madeira maciça e começar a falar, no entanto, os dois desfazem qualquer cerimônia. "Fernando e Sorocaba não têm frescura. As coisas do camarim, por exemplo, são mais para quem passa por lá do que para nós", diz Sorocaba, aparentemente o porta-voz da dupla, que surgiu em Londrina.

O fenômeno F&S é curioso. Os 20 mil ingressos para o show de gravação do terceiro DVD, que aconteceu ontem na Arena de Eventos, em Campina Grande do Sul, se esgotaram cinco dias antes da apresentação. A dupla – Fernando Fakri de Assis, 29 anos, é de Sorocaba (SP) e Fernando Zorzanello Bonifácio,26, é de Ji-Paraná (RO) – têm quatro discos e três DVDs lançados em pouco mais de quatro anos de carreira. Isso em tempos difíceis para a indústria fonográfica, que vai mal das pernas e anda às turras com a pirataria e com outras formas de divulgação. Nada, no entanto, que eles não saibam.

Em show para 20 mil pessoas em São Paulo, há algum tempo, 7 mil downloads da música "PagaPau" foram comercializados depois da apresentação. "São ações que a gravadora [antes Universal, agora Som Livre] propõem que têm dado resultado", explica Sorocaba.

A explicação para que a dupla saísse de uma birosca de Londrina, há quatro anos, e tocasse a música "Bala de Prata" para mais de 80 mil em Cascavel, para meio milhão de pessoas em um 1.º de Maio em São Paulo, para 45 mil pagantes em Barretos e 30 mil em um festival em Rondônia, também é dupla. O primeiro ponto é a onda sertaneja que "arrebanhou" público e criou estabelecimentos e bares onde o chapéu prevalece.

"A dupla Fernando & Sorocaba fez parte do time que trouxe a música sertaneja com mais força para Curitiba. Há cerca de quatro anos, abriu uma casa de shows [Woods] que movimentou muito a cena. Então, a cada ano que passa, isso fica mais forte", explica Sorocaba.

Outro ponto é – a palavra está na moda – o "diferencial" que a dupla traz. Na verdade, o "papo". "Nossas músicas falam o que realmente acontece no dia-a-dia das pessoas. Têm desde gírias a papos que estão rolando atualmente", explica novamente Sorocaba, compositor da maioria das canções.

Em meio a incontáveis du­­plas que se confundem nas rádios e no som alto dos carros, os dois tentam se distinguir. "Você tem que ter um diferencial, buscar outros caminhos diferentes porque existe muita gente fazendo o que muita gente já fez. Por que vou escutar o outro se já tem esse aqui?", indaga Sorocaba. Então a dupla se vale de arranjos um pouco mais sofisticados – são sete músicos na banda inteira, que inclui um violinista –, e de letras bem-humoradas, quase debochadas. "Mas, às vezes, as coisas mais simples caem na graça do povo", lembra a dupla, citando a música "PagaPau".

Shakira e Bon Jovi

Sorocaba gosta de Shakira e pretende ir ao show do Bon Jovi, em São Paulo. Ele cita exemplos de músicos country norte-americanos, suas maiores influências. Fernando curte rock, gosta de guitarras altas. "Ouvimos outras coisas para dar uma ‘desbaratinada’", diz ele, também fã de música eletrônica. Mas a ligação com o que fazem é de longa data. "A música sertaneja está no sangue, crescemos ouvindo isso", explica Sorocaba. A música de que gosta? "Música boa. Independente do gênero, aquela que passa uma mensagem bacana, que tem uma melodia diferente e um papo legal".

Me dá um autógrafo?

Fernando & Sorocaba não podem andar em paz na rua. Como verdadeiras estrelas, são vítimas de pedidos de fãs, alguns – e algumas – às vezes mais entusiasmados. Uma foto aqui, um autógrafo ali. Tudo isso faz parte da rotina. "Tem que acostumar. Mas a gente tenta retribuir isso da melhor forma", diz Fernando. "Para as fãs, é melhor que a gente esteja de bem com a vida. Às vezes até estamos com algum problema pessoal, mas nem por isso deixamos de atender. O fã está ali porque gosta de você", completa Sorocaba.

Paraná de botas

Segundo a dupla, o Paraná é invejado no resto do país pela quantidade de boas duplas sertanejas que tem. Se antes os músicos de chapéu surgiam de Goiás, Minas Gerais e interior de São Paulo, hoje é Curitiba que tem a viola na ponta da bota. "O que mais surpreendeu a gente foi a elite passar a gostar da nossa música. Conseguimos atingir todas as classes", comemora Sorocaba.

Comprovando o sucesso e o "papo legal", a dupla participou recentemente da gravação de comemoração dos 40 anos de carreira de Xitãozinho e Xororó. Coisa para poucos.