Todo ano, os atores, diretores e outros envolvidos com teatro no Paraná aguardam ansiosamente a divulgação do vencedor do prêmio mais importante do estado na categoria, o Troféu Gralha Azul. Talvez a categoria com menos ansiedade seja a dos iluminadores. O favorito é sempre o mesmo profissional. Em 25 anos do prêmio, 17 gralhas foram parar nas mãos de Beto Bruel, o iluminador número 1 da cidade. Quem ganhou nos outros anos? O mais normal é serem ex-assistentes de Bruel, a quem ele gentilmente ensinou os caminhos da profissão.

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Em mais de 30 anos de carreira, Bruel acumula outros números impressionantes. São mais de 300 trabalhos para o teatro. Em alguns anos, chegou a fazer mais de dez trabalhos – sendo que, para fazer a iluminação de uma peça, ele chega a assistir até 25 vezes aos ensaios. E não são só vitórias passadas. No mês passado, por exemplo, seis das peças que estavam em cartaz em Curitiba tinham holofotes posicionados por ele: todas para trupes importantes, como a de Édson Bueno, que está levando Metamorphosis, e a de Fátima Ortiz, do Conto da Ilha Desconhecida.

"Teatro é assim. Não adianta só ficar olhando para as gralhas", diz Bruel. Por isso, ele nem pensa em algo parecido com aposentadoria. "Comecei no teatro em 1971. Se fosse seguir o rumo normal de outras carreiras, aposentava-me no ano que vem, mas não vou parar", diz ele. Pelo contrário. Aos 56 anos de idade, ele está apenas começando uma nova fase, em que seu trabalho está ganhando reconhecimento nacional. Vencedor de um prêmio Shell, o mais importante do teatro brasileiro, ele está novamente indicado na categoria de iluminação. Dessa vez, com Avenida Dropsie, de Felipe Hirsch.

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Acaso

Beto Bruel começou a fazer iluminação no teatro quase que por acaso. Em 1971, estava ajudando a fazer uma peça para o festival de teatro do Colégio Estadual. "Naquele tempo, teatro profissional mesmo só tinha o Guaíra. Depois teve o Paiol", conta ele. Quando chegaram com o trabalho considerado pronto para a apresentação, perceberam que faltava um "detalhe". "Não tínhamos pensado na luz. Aí, fui lá e fiz", conta ele. Dessa experiência, levou não só o futuro profissional como também um grupo de amigos que também passaram a se envolver com o palco. Entre eles, a produtora Verinha Walflor, a diretora Fátima Ortiz e a atriz Regina Bastos, com quem é casado desde então.

Depois de alguns trabalhos isolados, ele assumiu a carreira, definitivamente, em 1973. Nessa época, já começou a fazer quase uma dezena de trabalhos por ano. Até porque era um dos poucos especializados na área em Curitiba. Com o tempo, foi se tornando quase uma unanimidade. Trabalhou com quase todos os diretores importantes da cidade: de Oraci Gemba a Marcelo Marchioro, de Édson Bueno a Regina Vogue. E, mais recentemente, com Felipe Hirsch, diretor que Bruel considera importante para a cena local, principalmente por ter conseguido "passado o Atuba". Ou seja, saiu dos limites curitibanos rumo às capitais mais importantes do país.

Outra tarefa assumida por Bruel para não perder o bonde do tempo tem sido procurar "a criançada", como ele define, que está começando no teatro agora. "Veja essa peça Aperitivos, que estava em cartaz agora. A meninada veio ler o texto pra mim e achei fantástico. A gente tem de dar força para eles", diz ele, referindo-se à peça dirigida no mês passado por Márcio Mattana, com quatro atores jovens de Curitiba.

Empresa

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Como não podia deixar de ser, Bruel a certa altura dos acontecimentos, já com duas filhas, percebeu que precisava de mais um emprego para manter as contas em dia. Deu um jeito de resolver o problema sem se afastar do que mais gosta de fazer. Abriu uma empresa especializada em iluminação de eventos – de shows a formaturas. A Tamanduá, que funciona em Colombo, é hoje responsável por trabalhos de grande porte. Já fez a luz do Palácio Avenida na época de Natal, por exemplo, e comanda a iluminação de grandes shows e peças que passam pela cidade. "É um trabalho interessante", diz ele. "Mas, se pudesse, eu não saía nunca do teatro. Morava lá", completa.

Em cartaz

Hoje, há duas peças com iluminação de Beto Bruel em cartaz em Curitiba. Navalha na Carne está no Espaço Teatro Regina Vogue. Metamorphosis, no Teatro Édson Bueno. A peça Mulheres por um Fio, com Christiane Torloni, teve a luz montada por sua empresa.

* A peça Adolescer.com, que está em turnê pelo interior do Paraná, também tem luz de Bruel. Além disso, é um dos primeiros trabalhos de sua filha, Renata Bruel, uma das atrizes da montagem.

* Para Bruel, um dos melhores anos do teatro paranaense foi 1990, quando o Teatro de Comédia do Paraná montou Mistérios de Curitiba, dirigida por Ademar Guerra; New York por Will Eisner, de Édson Bueno; e As Bruxas de Salém, com direção de Marcelo Marchioro.

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