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Destaques

Programação terá leituras, música e artes visuais:

A conferência de abertura do Litercultura ficará a cargo do escritor e editor canadense, nascido na Argentina, Alberto Manguel. O tema da palestra será Como a literatura pode nos ajudar a construir um mundo melhor. Outros destaques são as palestras da escritora Ana Maria Machado, intitulada "Palavras, Palavrinhas e Palavrões" e do jornalista Silio Boccanera, que falará de sua trajetória entrevistando escritores.

O Litercultura também terá um braço de artes visuais e música, com destaque para os shows do poeta Rodrigo Garcia Lopes e o concerto de encerramento com Chico César, às 20h30 de domingo, no Palacete Sociedade Garibaldi.

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Programe-se

Ingressos podem ser retirados até amanhã

Os ingressos para o festival Litercultura podem ser retirados gratuitamente até amanhã na bilheteria do Memorial de Curitiba (R. Dr. Claudino dos Santos, 79, Largo da Ordem). O evento será gratuito em todos os espaços e na maioria das oficinas. A bilheteria funciona até amanhã, das 10 horas ao meio-dia e das 13 às 18 horas.

Entre os dias 16 e 18, quando acontece o evento, a bilheteria estará aberta uma hora antes de cada sessão, nos próprios locais onde acontece o Litercultura. Cada pessoa poderá retirar até dois ingressos para três diferentes sessões de autores por dia.

Agenda

A programação completa do Litercultura pode ser conferida no site do festival www.litercultura.com.br.

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Já faz parte do folclore da literatura mundial o episódio em que o escritor José Saramago (1922-2010) entregou o prêmio que leva o seu nome ao escritor Gonçalo M. Tavares pelo seu romance Jerusalém: "É um grande livro, pertence à grande literatura ocidental. Gonçalo M. Tavares não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!".

Hoje, aos 42 anos, Gonçalo já está consagrado como um dos grandes nomes da literatura europeia atual e vem pela primeira vez a Curitiba como a grande atração do Festival Litercultura.

O evento, que começa na próxima sexta-feira, 16, e segue até o domingo, 18, pretende, já nesta sua primeira edição, colocar a cidade no circuito dos principais eventos de literatura do país.

Nascido em Luanda, na Angola, mas vivendo em Lisboa desde a infância, Tavares já teve publicados mais de vinte livros em diversos gêneros, como poesia, romance, ensaio, conto e teatro, traduzidos em 45 países.

Entre esses trabalhos, destacam-se a epopeia moderna Viagem à Índia (2010) e um conjunto de narrativas que compõe uma espécie de utopia a que dá o título genérico de O Bairro, e que inclui, entre outros textos, O Senhor Valéry (2002), O Senhor Brecht (2004), O Senhor Calvino (2005), O Senhor Walser (2006) e O Senhor Eliot (2010).

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"Nós só podemos começar na literatura ou na arte a partir do que já foi feito. Me agrada muito a ideia de voltar aos clássicos e depois fazer algo diferente. Não ter a ilusão de que somos os primeiros. Nós temos que tentar continuar esse caminho, mas com grande respeito", disse à reportagem.

No Litercultura, Gonçalo M. Tavares vai realizar, pela primeira vez, uma sessão aberta ao público em que discutirá o conjunto de sua obra, especialmente os romances O Bairro e Viagem à Índia. Ele também irá ministrar uma oficina de escrita, teórica e prática (com inscrições já esgotadas).

Para o festival, cujo fio condutor é a experiência da leitura, Gonçalo também vai explicar como se deu o seu primeiro envolvimento com a literatura.

"Meu primeiro contato com os livros foi atacar a biblioteca paterna. Ele já tinha uma biblioteca muito boa, eu resgatava os livros. Depois, gradualmente, fui construindo meu próprio percurso", conta.

Frenesi

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Para o curador do evento, Mário Hélio Gomes, o festival começa em grande estilo com a presença de nomes relevantes – entre eles o sul-africano J. M. Coetzee, que esteve na cidade há três meses para uma pré-estreia do festival –, além de oficinas, exibições de filmes e apresentações de poesia e música, que vão dar uma cara peculiar ao evento.

"A procura antecipada pelos ingressos das sessões de literatura tem sido boa, as inscrições nas oficinas e nos concursos também", adianta Gomes.

"Percebemos um bom frenesi em mensagens que temos recebido, as pessoas felizes que Curitiba tenha agora também um festival de literatura, e que tenhamos escolhido a leitura como foco e apostado na variedade e diversidade de linguagens", completa.

Entre os destaques da programação estão a palestra de abertura de Alberto Manguel, a presença de autores de renome, como a presidente da Associação Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, além de importantes autores locais, como Cristovão Tezza, Miguel Sanches Neto e Luís Henrique Pellanda.

Leia a entrevista exclusiva com o escritor português Gonçalo M. Tavares que estará em Curitiba neste fim de semana participando do Litercultura.

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O festival Litercultura tem como fio condutor a leitura. Você lembra qual foram a s suas primeiras experiências de leitor?

Quando era criança comecei por ler muita banda desenhada: era o meu presente favorito. Depois, gradualmente, fui lendo, primeiro os clássicos.O meu pai tinha e tem uma bela biblioteca. Foi por aí que comecei. Gosto muito de bibliotecas de família.

Como você imagina que serão as conversas e oficinas aqui em Curitiba? Conhece algo da cidade, da sua literatura?

Não conheço a cidade nem a literatura. Tenho aí um amigo Mario-Helio que muito respeito e teve a gentileza de me convidar. Quero ver se estes dias dão para eu conhecer a cidade. Será um prazer. Dizem-me que é uma cidade muito organizada.

Em Viagem a India você revisita o gênero da epopeia e, em outros livros, cita textos e autores do passado. Como é sua relação com a tradição, com o que já foi produzido na literatura do passado?

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É muito importante termos a consciência de que inúmeros escritores escreveram antes de nós. Algo muito interessante na literatura é que a grande literatura não se desactualiza. Lemos um livro de Séneca, escrito há dois mil anos, e o livro continua a ser actual. Por isso de certa maneira os clássicos não são antigos, são novos. São muito mais novos do que a maior parte dos livros que saem hoje.

Você é nascido em Angola, criado em Portugal e está vindo ao Brasil. Há uma possibilidade de diálogo da literatura entre estas três nações lusófonas?

Espero que sim. partilharmos a mesma língua é um feito. E cada literatura, partindo da mesma base linguístico vai fazendo caminhos muito diferentes o que me agrada.

A propósito, como se dá a relação - que a mim parece tão marcante - entre a sua literatura e o território?Eu penso muito a partir do espaço; tenho um pensamento visual e espacial. Mas o território enquanto nação não é tanto o centro dos meus textos. Gosto de situar os meus textos numa espécie de lugar neutro, que pode ser qualquer sítio. Mas sim, a noção de território, a noção animal e humana, é bem importante para mim.

A pergunta fatal: porque você escreve?

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Não é uma necessidade intelectual. Tenho necessidade física, puramente física, de escrever. O meu organismo fica irritado se eu não escrevo. É isso.