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O Festival de Veneza também assistiu, na quarta, a Árido Movie, título brasileiro de Lírio Ferreira (Baile Perfumado) que concorre na seção paralela Horizontes. A platéia de jornalistas e críticos recebeu com certa frieza o longa-metragem, apesar de suas muitas qualidades. Também aqui, é fácil entender a razão. Árido Movie é uma espécie de objeto estranho no cinema atual – brasileiro, sobretudo.

Ferreira retoma no novo filme uma trilha sonora tributária da escola mangue beat. Alterna diálogos coloquiais e interpretações idem com poéticos momentos de misticismo e devaneios. Filma o sertão nordestino como uma paisagem ora libertária ora aprisionante – e sempre desafiadora.

É para lá que o jornalista Jonas (Guilheme Weber), que havia deixado a região ainda em sua infância, retorna, quando se inteira do assassinato de seu pai (Paulo César Pereio). Com esse entrecho, Árido Movie discute se são atávicas as heranças pessoais de Jonas, como a regra do "olho por olho, dente por dente", e a eterna condenação do Nordeste à seca e de seus habitantes ao êxodo.

O elenco, que tem Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Mariana Lima, Giulia Gam, José Dumont e José Celso Martinez Corrêa, entre outros, está afinado. A montagem ajusta o tempo do filme ao percurso de Jonas – sempre em movimento, mas com um ritmo que permita a descoberta, a reflexão e a sedimentação das idéias.

O roteirista de Árido Movie, Hilton Lacerda, o define como um exemplar do cinema "fora dos eixos". Pode estar correto. Mas é certo também que, pelas lentes de Ferreira, o sertão virou rocha, num filme que se ergue e se impõe.

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