O quadro “Vista da Vila de Itu” mostra região de São Paulo que, na época, integrava o sul do país| Foto: Reprodução

Uma dúvida paira sobre as imagens feitas pelo artista francês Jean-Baptiste Debret no sul do país em 1827, que estava na comitiva do imperador d. Pedro I, que percorreu a região. O mais famoso entre os pintores da missão artística francesa, que chegou ao Brasil em 1816, esteve pessoalmente nos lo­­cais para retratar as paisagens da região? Há teorias que inclinam para o sim, outras para o não, e o público poderá tirar suas conclusões vendo a exposição Debret – Viagem ao Sul do Brasil, que inaugura hoje na Caixa Cultural.

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"É um fato muito controverso, pois não se tem documentação que nos assegure que ele realmente esteve no Sul ou ao contrário. O que existe são mais de cem obras sobre a região, o que pode ser indicativo de uma viagem, mas não necessariamente. Os artistas da época poderiam criar suas obras a partir de esboços de outros artistas", diz a curadora da mostra, Anna Paola Baptista.

Dos cem trabalhos existentes, que pertencem aos Museus Castro Maya (Chácara do Céu, no bairro Santa Teresa, e Museu do Açude, no Alto da Boa Vista), no Rio de Janeiro, foram selecionados 40 quadros, desenhos e aquarelas, além de outras 20 obras que traçam um breve panorama da vida na Corte, temática que deixou Debret conhecido no país e que ajudam a contextualizar a exposição – nos 15 anos em que ele esteve no Brasil, o artista retratou a vida urbana do Rio de Janeiro e o cotidiano da corte."O que mais conhecemos dele são exatamente as cenas do Rio de Janeiro, os escravos na rua, a arquitetura colonial. É um panorama interessante, que não poderia ser ignorado", ressalta Anna.

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Entre as outras teorias existentes sobre a suposta vinda de Debret ao Sul, a mudança brusca de temática (ao contrário dos desenhos e aquarelas do Rio de Janeiro, as paisagens e amplos campos são os protagonistas das imagens nos estados sulistas) e o distanciamento com que desenha as paisagens – em alguns quadros, os retratados aparecem quase em miniatura – podem permitir a interpretação de que o artista realizou os desenhos de longe, de acordo com a curadora. "Apesar de as localidades e cidades estarem começando e, obviamente, serem drasticamente diferentes da então capital do país na época, a amplidão e a perspectiva que parece ser vista ‘de cima’ são características de um observador distante. Isso pode ser um indicativo de que ele não esteve nas cidades.’

Segundo Anna Paola, o "Debret paisagista" se sai muito bem, apesar de não existirem diferenças nos traços ou nas cores usadas por ele. No entanto, é inegável que o maior vigor de sua obra está no retrato que traçou sobre o Brasil Imperial. "Debret pintava figuras históricas e sempre se focou no humano. Vemos o país Imperial pelos olhos dele. Por isso, a natureza não era algo muito recorrente nos seus trabalhos, e que acabaram sendo os destaques no sul do país". A curadora ressalta que o conjunto de quadros que vem ao Paraná raramente saem do Rio de Janeiro. "É uma oportunidade para o público poder ver de perto esse desenhos, que são menos conhecidos."

Acervo

As imagens que compõe a exposição foram adquiridas em 1930, em Paris, pelo mecenas Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968). Na época, o intuito era resgatar os originais de Debret que serviram de base para o livro Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, que o artista lançou na França.

Maya era filho de colecionadores de arte e conservou e aumentou significativamente a coleção herdada, que é composta por arte moderna brasileira, arte europeia dos séculos 19 e 20, arte ori­ental, louça do porto, entre outros materias.

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O mecenas transformou a sua coleção particular em patrimônio público em 1963. Os museus são hoje integrados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Ministério da Cultura e vinculados ao Instituto Brasileiros de Museus (Ibram).

Serviço

Debret – Viagem ao Sul do Brasil. Caixa Cultural (R. Conselheiro Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Abertura hoje, às 19h30. Visita guiada, a partir das 18h30. De 3ª a sáb., das 10 às 21 horas. Dom., das 10 às 19 horas. Entrada franca. Até 21 de agosto.