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Sábato Magaldi chegou para a entrevista ao Caderno G com um sorriso que manteve durante mais de uma hora de conversa. Ao ser chamado de senhor pela repórter, respondeu que "o senhor está no Céu". Isso apesar de seus quase 80 anos e um trajetória notável que o levou a ser um dos críticos teatrais mais importantes do país.

Com tanta simpatia, é difícil imaginar que Magaldi foi um crítico dos mais contundentes, a ponto de provocar reclamações inflamadas de empresários que iam à redação do Diário Carioca, onde trabalhou até 1953. Mais tarde, ele atuaria no Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo, na revista Teatro Brasileiro e no Jornal da Tarde.

Magaldi também foi professor na Escola de Arte Dramática; na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); no Instituto de Estudos Portugueses e Brasileiros na Sorbonne (onde, na juventude, es-pecializou-se em Estética) e na Universidade de Provence.

Desde 1994, é Membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira de seu antigo chefe de repartição pública, o escritor Cyro dos Anjos – formado em Direito, Magaldi iniciou-se na administração pública em 1948, como chefe de gabinete do Departamento de Assistência do Ipase, hoje INSS, no Rio de Janeiro, então dirigido por Cyro dos Anjos. O crítico se aposentou como procurador da entidade.

Magaldi pode dizer de boca cheia que é o autor que mais publicou livros sobre teatro no Brasil – são mais de quinze livros. E não pretende parar. "Estou sempre escrevendo, é uma doença incurável."

Premiado em todo o Brasil, ele esteve em Curitiba no dia 16 para receber o título de Doutor Honoris Causa da UniBrasil, acompanhado de sua esposa, a escritora Edla Van Steen, e de amigos como os atores Eva Wilma e Ary Fontoura.

Caderno G – O Sr. é formado em Direito, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Como enveredou para a crítica teatral?

Estudei Estética na França, com Étienne Souriau, um dos grandes estetas do teatro, que escreveu As 200 Mil Situações Dramáticas. Ele sabia tanto de teatro que, embora eu já fizesse crítica e mandasse correspondência da França para o Diário Carioca, nunca tive coragem de dizer a ele que era crítico (risadas). Ele sabia tão mais do que eu! De qualquer maneira, eu tinha interesse por teatro desde cedo. O normal teria sido eu me inscrever na faculdade de Filosofia ou de Letras. Mas o diretor da faculdade era o meu tio e ele achava que seria muito difícil eu conseguir emprego. Acho que ele teve uma certa sabedoria porque acabei me tornando procurador do Ipase, que foi o meu pão nosso de cada dia.

Como começou seu interesse pelo teatro?

Sempre gostei de "ver" teatro. Eu tinha vários amigos no Diário Ca-rioca que eram do meu grupo de Belo Horizonte: o Carlos Castello Branco, um dos maiores jornalistas políticos do país, o Wilson Figueiredo, que depois virou diretor do Jornal do Brasil, e muitos outros. O Paulo Mendes Campos me apresentou ao Pompeu de Souza, que era secretário do jornal. Ele adorava teatro. Aproveitava os fins de semana pra ir a espetáculos e escrever depois. O Paulo disse a ele: "Tem aqui uma pessoa pra ficar no meu lugar". Para ele era dificílimo sair de uma mesa de bar às seis da tarde para ir ao teatro. Aí, o Pompeu quis saber se eu tinha experiência. Perguntou: "De onde você é?". "De Belo Horizonte." "Ah, então é mineiro, sabe escrever. Senta na máquina e começa já". Me dei muito bem com ele. Ele, coitado! Recebeu muita crítica por minha causa porque, na época, o teatro era muito ruim. Eu escrevia metendo o pau nas coisas que achava ruins. Ele teve que agüentar muitas reclamações de empresários que iam ao jornal reclamar da minha crítica.

O crítico teatral é, muitas vezes, temido pela classe artística pelo seu poder de demolir ou exaltar uma peça. Que postura deve ter um crítico?

Hoje, as pessoas sabem que cada um tem sua função. Uma pessoa que se exibe no palco sabe que pode ser questionada. Agora, é fundamental que o crítico seja honesto e correto com a classe teatral e vice-versa. Acho que é perfeitamente possível estabelecer um convívio até mesmo fraternal. Por isso, me tornei professor e acredito que muitos dos meus alunos aproveitaram um pouco das minhas colocações. A crítica do Estado de S. Paulo, Mariangela Alves de Lima, por exemplo, foi minha aluna. É uma pessoa correta, que não está interessada em fazer todo mundo achar que ela é duríssima. É uma pessoa que trabalha honestamente e, por isso, tem o seu lugar.

Clique aqui para ler a segunda parte da entrevista

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