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Leia também

• A Sangue Frio, de Truman Capote (Companhia das Letras)

• Na Rua em que Você Mora, de Mary Higgins Clark (Record)

• Crime e Castigo, de Dostoievski (Editora 34)

• O Dragão Vermelho, O Silêncio dos Inocentes e Hannibal, de Thomas Harris (todos pela Record)

• O Talentoso Ripley, O Jogo de Ripley, Ripley Subterrâneo, O Garoto que Seguiu Ripley, de Patricia Highsmith (Companhia das Letras)

• Intensidade (Mandarim) e Velocidade (Nova Fronteira), de Dean Koontz

• Amor fatal, A Clínica, Legítima Defesa e Sangue do Meu Sangue, de Jonathan Kellerman (Mandarim)

• Desespero, Rose Madder, A Coisa (os três pela Objetiva) e A Metade Negra (Francisco Alves), de Stephen King

• Acqua Toffana, Elogio da Mentira, O Matador, Inferno, Valsa Negra e Mundo Perdido, de Patricia Melo (Companhia das Letras)

• O Estrangulador, de Manuel Vasquez Montalbán (Companhia das Letras)

• O Clube do Fogo do Inferno, de Peter Straub (Bertrand Brasil)

• Retrato de um Assassino – Jack, o Estripador: Caso Encerrado, de Patricia D. Cornwell (Companhia das Letras)

Veja também

Sempre que se fala em livros e filmes com algum teor de violência – e sobretudo naqueles francamente sanguinários –, uma questão é recorrente. O interesse por esse tipo de história se sustenta em um cenário onde os crimes nas cidades grandes (ou não tão grandes assim) pontuam o noticiário todos os dias, tanto no Brasil quanto no Iraque ou onde quer que haja pelo menos duas pessoas e uma discorde da outra em qualquer tópico – religioso, na maioria das vezes.

Soa paradoxal, mas as pessoas se interessam por violência na ficção mesmo sendo assombradas por ela no cotidiano.

No caso dos assassinos em série, eles não só conseguem matar, como o fazem sem culpa. Esse parece ser um elemento indissociável do encanto exercido por histórias que, em tese, teriam de ser repulsivas.

Luiz Alfredo Garcia-Roza, criador do inspetor Espinosa (O Silêncio da Chuva, Companhia das Letras), fala que um serial killer é capaz de mostrar que o mal não é exterior ao homem. O escritor e psicanalista fala de Tom Ripley, personagem de Patricia Highsmith (O Talentoso Ripley), e de Hannibal Lecter, de Thomas Harris (O Silêncio dos Inocentes), dois dos assassinos mais célebres da literatura e do cinema.

"Hannibal e Ripley nos mostram que essa linha que separa o bem e o mal não existe, é uma ficção moralista. Tanto o bem como o mal nos habitam. São nossos íntimos. Ripley e Hannibal somos nós. Sem culpa. Isso é fascinante", diz.

O fato de psicopatas colocarem certas fantasias em prática sem sentir culpa é citado também pela escritora Miriam Mambrini (O Crime Mais Cruel, Bom Texto). "Eles cortam a jugular de uma pessoa com a inocente tranqüilidade de quem abre uma fruta para comer", exemplifica. "Impulsos assassinos e fantasias perversas são comuns, estão presentes se não em todos, pelo menos em grande parte dos seres humanos."

Os romances policiais em geral trabalham com crimes que costumam ter razões muito claras. Um casal de amantes quer se livrar do marido dela para poder assumir o romance. Ou um planeja a morte do outro para ficar com o dinheiro do seguro. Há até quem mate apenas para conseguir a vaga em um emprego – mote do livro O Corte, de Donald E. Westlake, levado ao cinema em 2005, com o mesmo título, pelo diretor grego Costa-Gavras.

O que intriga em parte dos assassinatos em série é exatamente a ausência de um motivo claro, de uma explicação racional (justificativa é outra coisa). O serial killer não é motivado por ganância, amor, ódio ou inveja. Ele costuma ser um doente que não está nem aí para motivos.

"A razão que faz um serial cometer crimes é outra, oculta. Em alguns casos, inexplicável até mesmo para ele. Isso torna a interpretação do crime mais, digamos, democrática, aberta. Nós podemos participar da intriga, sugerir esses motivos. Podemos descobrir o que talvez o próprio assassino não saiba", afirma o jornalista e escritor Fernando Molica, sobre o porquê de as pessoas se interessarem por esse tipo de história.

A violência ficcional é, em tese, inofensiva para quem a consome. Em um livro, a ameaça é isolada e o culpado, descoberto e punido (com exceções). "A ordem é retomada e, depois de muitos sustos, podemos dormir tranqüilos", diz Molica.

O submundo retratado nos livros é sempre mediado pela razão. "Os crimes emergem num universo em que há expectativa de que eles sejam ‘controlados’, ainda que, muitas vezes, na literatura policial contemporânea, eles não sejam ‘resolvidos’", afirma a pesquisadora Adriana de Freitas, doutora em Letras.

Adriana explica que as cidades são fundamentais para as narrativas de crime. A civilização urbana, a criação da polícia, a existência de criminosos e de um público consumidor de jornais – onde os crimes são publicados – estão entre os elementos que colaboraram para a formação de leitores de romances policiais.

Porém, hoje, essas mesmas cidades onde o gênero foi forjado convivem com uma criminalidade capaz de amedrontar as pessoas o tempo todo. Uma violência real, imprevisível e implacável.

"Tenho por mim que a maioria das verdades é paradoxal. É justamente porque a morte nos assombra que somos fascinados pelas narrativas de violência", diz Rafael Cardoso (Entre as Mulheres, Record). "É uma espécie de voyeurismo moral: você tem prazer em ver aquilo que não se permite fazer."

Comum, em uma história de assassinatos em série, é o leitor sentir medo porque se identifica com as vítimas. O romancista Rubem Mauro Machado lembra de outra identificação, também perturbadora, a de que liga o público ao assassino. "Entender a mente de um serial killer é entender até onde podemos chegar", sentencia. Em uma época onde o individualismo é regra, "eliminar" o outro não é uma idéia estranha para ninguém, metafórica ou literalmente.

Se a ficção é um reflexo da vida e funciona como uma ferramenta para que as pessoas entendam melhor quem são e o que pensam, ler e escrever sobre crimes não deixa de ser uma forma de experimentá-los, na imaginação.

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