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“Hoje, um músico pode viver em Curitiba, há mercado. Mas também é necessário sair e apresentar o seu trabalho em outras cidades e países. Mas o meu sonho, confesso, seria tocar à noite na Europa, para receber em euro, e passar o dia em Curitiba.” Glauco Sölter, contrabaixista | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
“Hoje, um músico pode viver em Curitiba, há mercado. Mas também é necessário sair e apresentar o seu trabalho em outras cidades e países. Mas o meu sonho, confesso, seria tocar à noite na Europa, para receber em euro, e passar o dia em Curitiba.” Glauco Sölter, contrabaixista| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
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Se o baixista parar, a música acaba. A afirmação é de Glauco Sölter, de 40 anos, um dos mais talentosos contrabaixistas em atividade em Curitiba, com projeção internacional.

Atualmente, ele está envolvido com 12 projetos, de 12 artistas diferentes.

Este mês, cumpre agenda na Eslováquia. Em março, tem shos confirmados em Buenos Aires e em Moscou. Em abril, apresenta-se na cidade de Lima, no Peru.

Hoje, primeiro dia de fevereiro, Sölter sai de Curitiba para uma breve temporada de descanso. Afinal, nos últimos dez dias, esteve envolvido, na função de diretor artístico, com a etapa popular da Oficina de Música de Curitiba.

O músico concedeu entrevista à Gazeta do Povo há exatamente uma semana, em um café no Batel. Durante três horas, recebeu dezenas de ligações em seu telefone celular. Pedia licença para poder atender chamadas urgentes: um músico que chegava na cidade e precisava de informações ou um palestrante que queria conferir uma apresentação. Durante a Oficina, ele, que costuma dormir cinco horas por noite, ficava até mais de 21 horas acordado diariamente.

Alguém, na tentativa de en­­contrar uma definição, poderia dizer que Sölter é hiperativo. Na realidade, desde a adolescência, ele teve um projeto: ter carro na garagem, comida na geladeira, dinheiro na conta bancária e férias todo ano. Detalhe: ambicionou conquistar tudo isso sendo músico.

Ele conseguiu.

É mais fácil dizer com quem ainda não tocou em Curitiba, do que listar os artistas, músicos e compositores que já dividiram o palco com Sölter.

Com brilho nos olhos, o instrumentista diz que tem uma tese: o baixista é um zagueiro. Ele cita os integrantes de sua banda, Na Tocaia, para dar suporte ao discurso. O baterista, Endrigo Bettega, é o goleiro. O tecladista, Jeff Sabbag, e o guitarrista, Mário Conde, jogam no meio de campo. E o solista, o trombonista Raul de Souza, é o centroavante. "Já temos, então, pelo menos, um time de futebol de salão", diz. Mas, pondera Sölter, as funções podem se inverter, e o meio de campo, o goleiro e mesmo o zagueiro, ele, no caso, podem vir a marcar o gol.

Ver e ouvir o som de Sölter em cima de um palco é, sem nenhum exagero, presenciar um gol de Pelé ou um drible de Garrincha. No mínimo, uma bossa do Ro­­mário. Ou, para ser absolutamente direto: é um gol de placa, golaço.

Curioso é saber que ele "a­­­­pren­­deu" a tocar com Diogo Portugal. Não é piada. Quando tinha 15 anos, Sölter recebeu algumas dicas do atual bem-sucedido humorista, que naquela época já apresentava verve cômica. "O Diogo Portugal tocava músicas dos Stones. Ele tinha um baixo azul", lembra.

Vinte e cinco anos depois das primeiras frases no baixo, ele já levou a sua pulsação e musicalidade para palcos na Tunísia, na Ilha da Reunião (no sul da África), para Boston, Eslováquia e Mon­­treux.

Hoje, ele sabe que somente diante de uma outra cultura é que uma pessoa começa a ter noção de como é a sua própria (cultura).

Sölter também sabe, até por experiência, que no exterior o público não tem muito interesse em escutar um brasileiro tocando rock ou jazz. Fora dos limites territoriais brasileiros, um músico brasileiro tem de tocar, pelo menos, samba e bossa nova. "E enfrentar a música brasileira, tão rica e complexa, é um desafio, até mesmo para um músico brasileiro", diz.

A música instrumental praticamente se impôs no caminho de Sölter.

Ele não queria se restringir a, por exemplo, ser apenas um baixista de reggae ou de rock. Desde o começo de sua carreira, sentiu necessidade de ampliar as possibilidades de atuação. Atual­­mente, nem precisa ensaiar para acompanhar um artista. Sölter diz isso sem a intenção de contar vantagem. É, apenas, fato.

Um cantor, com um violão, toca um acorde e ele acompanha. Músicos de baile sabem fazer isso. Ele não passou pela "escola" de baile. Mas tocou em bandas covers, como a lendária CWB. E, então, mergulhou na música.

Neste momento, Sölter acaba de mudar a cor de sua casa. O que era azul, agora é bege. Depois de dois casamentos, o mais recente terminou ano passado, ele vive um período de redescobrir a vida ao lado da atriz, diretora de teatro e artista plástica Maureen Miranda. "Não são os opostos que se atraem. Os iguais é que se atraem", analisa. Maureen, a exemplo de Sölter, também é uma pessoa inquieta, que consegue administrar diversos projetos ao mesmo tempo e ainda encontra brechas para olhar o pôr do sol.

Teletransporte

Se para sonhar não se paga imposto, Sölter conta que, se houvesse um teletransporte, ele gostaria de trabalhar à noite na Europa, para receber em euro, e passar o dia no Brasil. O baixista não pretende sair de Curitiba. Mas sabe que é preciso, mesmo tendo a base por aqui, exibir a arte em outros paralelos e meridianos.

Depois de três álbuns de mú­­sica instrumental, este ano Söl­­ter grava um com letras e sonoridade pop. Para quem aprendeu a tocar berimbau em menos de 20 dias durante uma temporada em Salvador, nada parece ser impossível. "Se o baixista parar, a música acaba", diz, continuamente, Sölter.

Ele, baixista e inquieto que é, parece não parar. Nunca.

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