Ilustração: Poty Lazzarotto| Foto:

Segundo Machado, a tua Curitiba (essa mesma do pai do finório Escobar) é uma boa cidade, ai, para você morrer.

Pico na Veia, 2002.

Conhece a lição do Rilke, a vida inteira para escrever um só verso e, impávido, lança mais um livro. Ora, um livro, ainda medíocre, ao mundo que mal fará? Começa que ninguém lê.

Dinorá, 1994.

Tristeza é ver florindo o vasinho de violeta no quarto da filha morta.

99 Corruíras Nanicas, 2002.

A melhor de todas as cidades possíveis nenhum motorista pô respeita o sinal vermelho Curitiba europeia do primeiro mundocinquenta buracos por pessoa em toda calçada Curitiba alegre do povo feliz essa é a cidade irreal da propaganda ninguém não viu não sabe onde fica falso produto de marketing político ópera bufa de nuvem fraude arame cidade alegríssima de mentirinha

Em Busca de Curitiba Perdida, 1992.

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Os livros de Dalton Trevisan têm uma espécie de sinal particular. Seu universo tem limites geográficos bem definidos e seus personagens pertencem a um mesmo grupo: são curitibanos. Esse foco no particular nunca atrapalhou a aceitação da obra de Dalton fora dos limites da cidade porque a qualidade da sua literatura se impõe, ao mesmo tempo que torna irrelevante os nomes ou o sotaque dos personagens. Se fossem russos ou argentinos os machões apaixonados e as mulheres sensuais e desgarradas que habitam seus contos, ainda assim seria uma obra coerente e a linguagem, irresistível.

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A história de Dalton Trevisan na literatura brasileira começou por dois caminhos distintos: ele criou e editou a revista Joaquim, que publicou textos e ilustrações de nomes importantes da cultura brasileira do Pós-Guerra, como Carlos Drummond de Andrade e Otto Maria Carpeaux. Joaquim virou um sucesso nacional e Dalton decidiu matá-lo e se concentrar na sua própria literatura. Participou de alguns concursos que começaram a chamar a atenção do mundo literário para seus trabalhos. Não parou mais. Dá para arriscar dizer que nenhum escritor brasileiro tem mantido por tanto tempo uma produção tão constante. É difícil passar um ano sem que se veja algo novo da lavra do Vampiro.

Contista em tempo integral, ele surpreendeu quando lançou um romance, A Polaquinha. Espécie de romance de formação de uma curitibana de origem humilde, virou peça de teatro e é até hoje uma de suas obras de maior repercussão. Recentemente, ele lançou Mirinha, que coloca outra moça curitibana como heroína de um mundo machista e conservador, em que sexo e amor causam confusão nas vidas de quem ousa desfrutá-los. Para quem quer se iniciar no universo de Dalton Trevisan, A Polaquinha e Mirinha são portas de entrada tão nobres quanto o pioneiro Cemitério de Elefantes.

O zelo do escritor em eliminar de seus textos toda palavra desnecessária vem sendo testada continuamente. Chegou a enveredar pelo caminho dos haicais e histórias curtíssimas, que publicou em livros e em revistinhas que ele mesmo edita e distribui para os conhecidos.

O filho de uma família de imigrantes italianos que se instalou na região de Colombo e Almirante Tamandaré desenvolveu um gosto refinado pela ilustração. As capas de seus livros, muitos deles ilustrados pelo amigo Poty Lazzarotto, refletem o preciosismo de Dalton. Em seguidas colaborações para a Gazeta do Povo, fez páginas cuidadosamente pensadas para promover a simbiose entre textos e imagens.

Em se tratando de Dalton Trevisan, cada palavra, cada imagem que aparece no papel é a expressão mais genuína e reveladora do escritor que evita formas mais óbvias de dizer o que pensa.

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