Nada de convenções sociais, apenas a lógica. Assim os dois últimos sobreviventes da Terra desenrolam seus destinos ao se encontrar no Nepal.
Esse é apenas um pano de fundo que o grupo Teatro Fúria, de Cuiabá (Mato Grosso), utiliza na peça Nepal para discutir as ambições e poderes humanos no limite da existência.
A dois dias do fim do mundo, os sobreviventes, interpretados por Giovanni Araújo e Péricles Anarcos, buscam inventar uma nova convenção social e discutem indefinidamente o que vão deixar de legado para a "população futura".
A saga é movida a base de humor. Uma guerra pelo poder se instala concentrada num jogo de cordas, que em meio aos embates entre as personagens ganha diferentes iluminações. O jogo de luzes garante a boa estética do espetáculo em um cenário montado apenas com cordas e uma bacia de água, que representa um rio. O precioso acesso à água move a disputa entre eles.
Os personagens lutam com as cordas o tempo todo, cada um exibindo seu egocentrismo em potencial, em cenas bem-humoradas e recheadas de comportamentos, no mínimo, jocosos.
A busca pelo novo sentido na vida, que está chegando ao fim para as personagens, transforma a ambição pelo poder em algo extremamente banal num mundo em que só sobraram, além dos protagonistas, dúzias de escorpiões e baratas.
Os egos das personagens se mantêm exaltados, meio sem ter noção de que estão lutando por algo que nada significa a apenas dois dias de seu desaparecimento.
Em certo momento as personagens se dão conta de que suas estratégias para conquistar, principalmente, o poder pela bacia de água são absolutamente patéticas.
Na estrada desde 1995, de lá pra cá o espetáculo amadureceu em texto e interpretação, contam os atores.
"A peça tinha 1h30, hoje encenamos em 50 minutos. A interação entre os personagens ganhou forma."
Anarcos lembra que para escrever o texto partiu da idéia das convenções sociais e da busca pelo sentido da vida para mostrar ao público o que realmente é importante para o relacionamento humano. Ou seja, o quanto a batalha pelo poder perde sentido quando se está à beira da extinção.
A peça, que já foi encenada no FTC em 2001, teve boa procura este ano. Na última apresentação, na terça-feira, muitos ficaram do lado de fora por conta do espaço limitado do Mini-Guaíra. GGGG