A sátira "Obrigado por fumar", que entra em cartaz nesta sexta-feira (18), dispara contra tudo e contra todos: cigarros, armas, bebidas alcoólicas, os liberais norte-americanos, os interioranos reacionários, os adversários e defensores do fumo e os políticos que defendem apenas seus próprios interesses.
Na realidade, o filme fala da era da manipulação de informações, em que até mesmo Adolf Hitler pode se passar por um homem incompreendido... desde que conte com o porta-voz correto.
Se existe algum problema com esse primeiro longa-metragem de Jason Reitman, é o de que seu tom está muito distante do mundo real dos lobistas de Washington.
"Obrigado por fumar" é engraçado e inteligente, mas peca por ser superficial. Faltam a ele a mordacidade e a ira presentes numa sátira como "Rede de Intrigas" ("Network" de 1976). Embora em muitos momentos seja divertido, o filme não pára de repetir as mesmas notas cômicas. Seu público preferencial será o universitário e intelectualizado.
Baseado no romance "Obrigado por fumar" (1994), de Christopher Buckley, a obra mergulha no mundo de Nick Naylor (Aaron Eckhart), um lobista e manipulador exímio que enfrenta desafios enormes. E que desafio poderia ser maior do que o de fazer lobby em favor da indústria do cigarro, que mata mais de 1.200 americanos por dia?
Um dos toques hilários do filme é dado pelos almoços que Nick frequentemente divide com outros lobistas, incluindo uma que defende a indústria do álcool (Maria Bello) e outro que representa os fabricantes de armas (David Koechner). Os três se apelidam de "MOD Squad", sendo que MOD são as iniciais de "Mercadores da Morte" em inglês.
Nick está divorciado de sua mulher, Jill (Kim Dickens), e distante da vida de seu filho Joey (Cameron Bright), de 12 anos. Quando os dois fazem uma viagem a Hollywood, começam a se entender melhor quando falam das estratégias usadas para apresentar argumentos eficazes em qualquer discussão. Nick diz a seu filho: "Se você argumentar corretamente, nunca estará errado".
Essa é a única parte do filme que passa uma impressão de verdade, já que o pai descreve seu trabalho de uma maneira que faz sentido para o menino. O resto da história se desenvolve em tramas paralelas e pouco convincentes envolvendo uma repórter de jornal (Katie Holmes) que usa o sexo para conseguir um furo, um sequestro no qual Nick recebe uma overdose de nicotina, um "grande chefão do tabaco" (Robert Duvall), um senador de Vermont (William H. Macy) que nunca tem uma resposta na ponta da língua e um superagente de Hollywood (Rob Lowe), este uma caricatura do ex-agente na vida real Mike Ovitz.
Sob a direção de Reitman, as atuações são dinâmicas e as cenas fluem bem. Eckhart e Bright se mostram convincentes nos papéis de pai e filho, mas a maioria dos outros atores representa seus papéis em tom caricato. Sam Elliott faz uma ponta sólida no papel de um "Marlboro Man" que está morrendo de câncer.
A direção fotográfica de Jams Whitaker e a edição de Dana E. Glauberman são afiadas, e a trilha sonora faz uso inteligente de canções de anos atrás que falam de cigarros.
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