O sociólogo francês Michel Maffesoli dedicou mais de 30 anos de sua vida à observação e ao estudo da vida cotidiana e do comportamento humano. Responsável por importantes teorias sobre a pós-modernidade, ele acredita que a sociedade está se voltando para comportamentos mais essenciais, como a divisão em tribos, o nomadismo e a valorização do emocional, ao invés da racionalidade, como ocorria na sociedade modernista.
Convidado para um encontro promovido pelo mestrado em Comunicação e Linguagem e o curso de História da Universidade Tuiuti do Paraná, e com o apoio da Confraria da Palavra, o pensador esteve em Curitiba para falar sobre o Reencantamento do Mundo, expressão que usa para definir uma época em que a importância do imaginário e do não-racional é cada vez mais significativo, fenômeno indicado pela busca por livros de autores como J.R.R. Tolkien e Paulo Coelho.
Mafessoli é professor-titular da Sorbonne Paris V, diretor do Centro de Estudos sobre o Atual e o Cotidiano, do Centro de Pesquisa sobre o Imaginário, e editor da Revista Sociétes. Em entrevista ao Caderno G, o sociólogo fala sobre as prioridades da sociedade atual e as características das novas gerações.
Caderno G Enquanto muitos pesquisadores tendem a ter previsões negativas sobre o futuro, por causa dos últimos acontecimentos, o senhor apresenta uma visão contrária e mais otimista. O que o levou a essa conclusão?Maffesoli Não gosto muito dessa classificação de otimista e pessimista, pois não acredito que o pessimismo seja uma corrente acadêmica. O que faço é analisar as impressões do pesquisadores que trabalham comigo, a partir do que vivenciaram na rua. O trabalho do intelectual, na minha opinião, não é descrever o que deveria ser, mas analisar o que é. Quando observamos o que é, descobrimos uma efervescência social, que é traduzida nas expressões da cultura jovem, como a música eletrônica e os esportes radicais. Não sei se isso pode ser considerado otimismo, mas foi o que eu constatei.
Um de seus últimos livros, A Parte do Diabo, fala sobre o lugar do mal na nossa sociedade e sobre o relativismo de crenças. Será que o maior "mal" do mundo está no absolutismo do pensamento?O relativismo é uma das grandes marcas da pós-modernidade. Enquanto a modernidade prezava a racionalidade e o bem como valor absoluto, a pós-modernidade não vai mais funcionar sobre apenas um valor, mas vai buscar o policulturalismo. A modernidade é o monoteísmo e a pós-modernidade é o politeísmo. Existe hoje, metaforicamente, uma pluralidade de deuses. Os deuses da música, dos esportes, das artes. O relativismo é o meio encontrado para buscar a pluralidade.
O livro também aborda a situação da juventude, nas mudanças de valores e no redirecionamento da energia juvenil. Que tipo de comportamento se pode esperar das novas gerações?É importante entender que o fim de um mundo não é o fim do mundo. Está havendo uma saturação dos valores modernos e burgueses e o que se percebe nas novas gerações é um outro tipo de valor. Antes a energia dos jovens era voltada para o futuro, para o sucesso profissional, para a política e para o social. Hoje em dia, houve uma mutação dessa energia juvenil, que se projeta muito mais para o presente e na realização imediata. Não se pensa mais a longo prazo, o lema de agora é carpe diem ["aproveite o dia", em latim].
E quais podem ser as conseqüências dessa nova atitude da juventude em relação à vida?Não posso dar a minha opinião do Brasil, mas falo da Europa. Há uma grande desconexão entre o que é chamado de intelligentsia do institucional. Existe uma espécie de fosso que separa a vida oficial da vida oficiosa, que é a vida real. Aqueles que têm o poder de agir e tomar decisões, como os políticos, os universitários e os jornalistas, continuam seguindo os valores instituídos. Eles não conseguem valorizar os valores juvenis. O meu objetivo é entender esses novos valores e busco isso há mais de 30 anos.
Se vivemos em uma sociedade que busca o prazer imediato, como o senhor afirma, isso não vai levar a um comportamento egocêntrico?Em geral, não acho que a sociedade seja muito individualista, como o pensamento comum costuma afirmar. Existe uma nova forma de manifestar solidariedade e generosidade, porque hoje a sociedade está se redividindo em tribos. Não existe mais a crença em grandes instituições sociais ou políticas, por isso as pessoas se organizam em tribos para realizar as coisas. Hoje existe uma variedade de tribos, que buscam novas formas de ser solidário e de se estar junto. De forma alguma, essas novas formas remetem ao egoísmo, muito menos a um comportamento institucional. A solidariedade tribal é a grande lição que precisa ser compreendida para contribuir para a pós-modernidade.
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