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Discutindo ativismo social, Bienal de Berlim convidou os norte-americanos do Occupy Museums | Divulgação
Discutindo ativismo social, Bienal de Berlim convidou os norte-americanos do Occupy Museums| Foto: Divulgação

Está decidido. Na manhã deste domingo, os americanos que integram o novimento Occupy Museums, criado em Nova York, em outubro do ano passado, inspirado nos protestos de ocupação de Wall Street, vão tomar todo o andar térreo da 7.ª Bienal de Berlim, na Alemanha. Empunhando cartazes com frases de efeito e executando performances de canto e dança — exatamente como fizeram no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) quatro vezes, no Lincoln Center, em dezembro, e no Museu Americano de História Natural, em novembro —, o grupo pretende chamar a atenção dos visitantes para dois pontos que considera cruciais. O primeiro é que a arte não é nem deve ser um artigo de luxo. O outro é que as obras de arte não são nem devem ser tratadas como ações em bolsas de valores. Elas não se prestam à especulação financeira, dizem.

Antes de embarcar para a capital alemã, o artista plástico Noah Fischer, um barbudo nascido em São Francisco que lidera o movimento desde sua origem, diz que a tomada da bienal põe o Occupy Museums num novo patamar. Será a primeira manifestação do coletivo fora de Nova York, e — avisa — não se restringirá à mostra. "Até o dia 14 de junho, faremos outros dez protestos culturais pela cidade", conta Fischer. "Vamos ao Guggenheim de Berlim, que tem o Deutsche Bank como principal parceiro, e à embaixada americana, é claro."

Dono de um mestrado em Belas Artes pela Universidade Columbia e ex-bolsista da Comissão Fulbright, o artista não revela os outros oito pontos em que fará intervenções. Diz se tratar de uma informação estratégica e que o fator surpresa é sempre fundamental para esse tipo de evento. Para dar corpo ao piquete, que, segundo ele, tem potencial para reunir mais de 400 pessoas e se tornar o maior já feito pelo movimento, mobilizará artistas europeus que também não se conformam com a especulação em torno da arte. A convocação será feita por cartas divulgadas na imprensa local e pela internet.

Convite

O tom revolucionário de Fischer mingua um bocado quando lhe perguntam sobre o fato de a tomada da bienal e dos outros dez pontos obedecer a um convite feito pelos curadores da mostra, Artur Zmijewski e Joanna Warsza. Ele reconhece a saia-justa. Em sua primeira batalha além-mar, o Occupy Museum vai para dentro do establishment tradicional da arte a convite dele, e com o objetivo único de criticá-lo. E tem graça protestar a convite? "O tema dessa bienal é o ativismo social, a arte engajada", defende Fischer. "Topamos ir a Berlim porque queremos aprender. Ao contrário dos Estados Unidos, onde 85% da cultura é financiada pelo setor privado, a Alemanha tem um governo que apoia a cultura. Ele está por trás da bienal, por exemplo. Queremos entender como isso funciona e, quem sabe, importar o modelo. Mas é claro que ser convidado para protestar em outro país nos coloca numa situação completamente diferente."

No manifesto que deu origem ao grupo, texto que ocupa lugar de destaque em seu site, lê-se em negrito: "A arte não é artigo de luxo." Logo abaixo, outras constatações que deram corpo ao movimento: "Boa parte dos museus é administrada por e para aquele 1% das pessoas que compõem a elite mundial. O interesse econômico tem ditado a arte. Galerias e museus operam cada vez mais visando ao lucro. Nesse sistema, dinheiro e poder definem o que é e o que não é arte." E Fischer garante que esse pilar do movimento está intacto e pulsando. "A arte é a personificação da criatividade humana, algo sem o qual o ser humano não pode viver", define. "Nem sempre é feita para ser consumida ou vendida, mas para provocar ou extravasar sentimentos. O que acontece é que os leilões e as feiras de arte são espaços idênticos às bolsas de valores. Uma obra é hoje uma ação. Especula-se com ela. E o resultado mais imediato disso é o encarecimento da arte, que acaba se tornando algo que só pode ser desfrutado por aquele 1% que consegue pagar por ela. E o que sobra para os outros 99%?"

Brasil

Fischer nunca viu ou conversou com o empresário brasileiro Bernardo Paz. Também nunca foi ao Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais. Mas sabe muito sobre ele. "Bernardo Paz tem uma visão única e extravagante e faz parte do tal 1% que nós tanto criticamos, mas conseguiu provocar um desenvolvimento econômico considerável em torno de seu parque e parece estar realmente preocupado com a educação. Hoje, Inhotim não estaria na lista de lugares a serem tomados pelo Occupy Museums", afirma.

Mas quando se dá conta de que o rumo de seu discurso soa como uma "proteção" do milionário, pede um retoque à reportagem: "É claro que ele ainda tem de provar que realmente é capaz de pensar de forma ampla e que seria muito melhor que a fortuna dele estivesse dividida entre os outros 99% dos brasileiros para que eles decidissem por si que tipo de investimento artístico-cultural querem. Mas, como isso ainda não aconteceu no Brasil, que vivencia uma melhora em sua distribuição de renda, a atuação de Bernardo poderia até servir de exemplo."

Em quase um ano de existência, o grupo, que tem o apoio declarado de celebridades como Lou Reed, Laurie Anderson e Philip Glass, teve como principal alvo o MoMA. "É o mais elitista da cidade e muitos membros de seu comitê também estão no comitê da Sotheby’s", explica Fischer, antes de dizer que a maior conquista a ser celebrada foi "ter dado voz àqueles que andam alijados da arte": "Hoje falamos por eles, e a imprensa acompanha. Já é um bom motivo para comemorar."

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