A inevitável passagem do tempo e a fragmentação que ela gera, tanto no nosso corpo como na mente, é talvez um dos assuntos sobre o qual a maioria de nós não quer pensar, tampouco falar. O diretor Rubens Rusche nos confronta com o tema no palco em Oh Belos Dias, espetáculo apresentado na noite de sexta-feira (27) e sábado (28), no Sesc da Esquina, no Festival de Teatro de Curitiba. A peça é um “quase monólogo” encenado pela atriz gaúcha Sandra Dani – 43 anos de palco – e seu marido, Luiz Paulo Vasconcellos.
Tradução do texto Happy Days, do escritor e dramaturgo Samuel Beckett, escrito em 1961, a história se passa em um lugar desértico: no meio da areia, uma mulher, Winnie, enterrada até a cintura, discorre sobre a vida em um “diálogo” com o marido (Willie), escondido em um buraco, aceitando as afirmações da esposa.
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Leia a matéria completaO texto, conhecido por tratar da incomunicabilidade, foi dividido pelo diretor em dois atos. No primeiro (de pouco mais de uma hora), o ator “aparece” mais, como um marido um tanto rabugento vivendo sua rotina dentro de um buraco. Na segunda parte, Sandra é quem se destaca, com a personagem vivendo o auge de sua angústia.
Indicado ao prêmio APCA de melhor direção e atriz, e vencedor do Prêmio Cultura Inglesa 2013, a peça vale para ver os dois ótimos atores veteranos em cena. A proposta, afinal, não é fácil: são quase duas horas de espetáculo, em uma posição praticamente imóvel dentro do cenário.
O problema é manter demais a estética de Beckett no palco, fator que acaba não funcionando muito para o espectador, que pode demorar para se sentir envolvido com as divagações da melancólica e também divertida Winnie. Fora que, não sei se pela acústica do teatro ou pela atriz, às vezes, era difícil de ouvi-la.