O Oi Futuro, centro cultural mantido pela companhia de telecomunicações no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro, abriu no último fim de semana uma série de shows em homenagem ao compositor Itamar Assumpção, no ano em que se completam dez anos de sua morte. O projeto, intitulado Nego Dito, celebra a obra original do músico, que foi nome de proa da chamada Vanguarda Paulista, com uma série de quatro shows de sua banda, Isca de Polícia, cada noite com um convidado especial.
Na sexta-feira passada, o grupo tocou ao lado do compositor e músico Arrigo Barnabé. Assumpção, embora fosse natural do município de Tietê, passou parte de sua vida no Paraná, a partir da pré-adolescência, entre as cidades de Arapongas e Londrina, onde conheceu Barnabé, outro nome fundamental do movimento que revolucionou a cena musical de São Paulo entre os anos 70 e 80, ao lado de grupos importantes como Rumo (de Luiz Thatit e Ná Ozzetti), Premeditando o Breque e Língua de Trapo.
No sábado passado, foi a vez do carioca Paulinho Moska subir ao palco do Oi Futuro com a Isca de Polícia, hoje formada por Suzana Salles e Vange Milliet (vocais), Bocato (trombone), Jean Trad (guitarra), Marco da Costa (bateria) e Paulo Lepetit (baixo), também diretor musical do projeto. Na próxima sexta-feira e sábado, os convidados serão BNegão (dia 18) e Zélia Duncan (19), que acaba de lançar o álbum Tudo Esclarecido, todo dedicado a composições de Assumpção.
A reportagem da Gazeta do Povo conversou com Moska no último sábado, momentos antes de sua apresentação, em que cantou cinco músicas do repertório de Assumpção, com as quais disse "ter maior identificação". Entre as escolhidas, "Dor Elegante", sucesso na voz de Zélia Duncan, "Vida de Artista", em uma interpretação arrepiante, apenas acompanhada por seu violão, e "Fico Louco", um dos maiores êxitos de Assumpção, defendida no bis.
Na entrevista, Moska disse que Assumpção foi um artista extremamente original, único, e que faz muita falta no cenário brasileiro atual, pautado hoje pela mesmice imposta pelos meios de comunicação de massa, que se fecham cada vez mais para a diversidade. "A música do Itamar era pautada por uma dor criativa que tinha enorme potência. Ele deglutia a realidade e a vomitava em forma de arte, de poesia, sempre com muita estranheza e provocação. Era um artista maldito bendito que estava sempre inovando."
Ao se comparar a Assumpção, Moska disse que o processo criativo do paulista era oposto ao seu. "Ele partia da emoção, era pulsação criativa pura, da qual brotavam suas canções. Eu, da razão, do mais cerebral, para encontrar a emoção na composição", disse o carioca, que neste ano pretende lançar um DVD ao vivo. Também acaba de rodar, como ator, o longa-metragem Minutos Atrás, de Caio Soh, ao lado de Vladimir Brichta e Otávio Müller. "Faço papel de um cavalo e escrevi a trilha sonora, com o André Abujamra", contou.
O jornalista viajou a convite da Oi Futuro.
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