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Pessoas iluminadas pelo sol falso de Eliasson em The Weather Project (2004), na Tate Modern. | Bjoss/Creative Commons
Pessoas iluminadas pelo sol falso de Eliasson em The Weather Project (2004), na Tate Modern.| Foto: Bjoss/Creative Commons

O primeiro conjunto de exposições da recém-inaugurada Fondation Louis Vuitton, em Paris, apresenta um labirinto de luzes, escuros e espelhos do artista islandês-dinamarquês Olafur Eliasson. A exposição se chama Contact: a curadoria diz que a obra se apoia na “capacidade de empatia do visitante”. E dá certo. As pessoas terminam uma vez o percurso todo e recomeçam imediatamente. Luz, sombra, espelhos, vidros convexos, luzes estroboscópicas, jatos de água: um caminho por ambientes diferentes que testam nossa capacidade de equilíbrio (várias advertências são feitas antes da entrada), senso de direção, compreensão das leis da física... As descrições são sempre frustrantes e fotos são limitadoras, porque é justamente pela inserção naqueles espaços que aquela arte da instalação se faz.

O quê

Instalações são objetos gigantes e geralmente “penetráveis”, ambientes estranhos, de exceção, às vezes com alterações de proporções e sentidos, direção ou espaço, ou com proporções tão corrompidas que nos obrigam a repensar nosso próprio tamanho.

As primeiras instalações sérias que vi na vida foram em uma Bienal em São Paulo, no final dos anos 1980. Eu, adolescente, fiquei muitíssimo impressionada com aquela possibilidade...

Por quê

Algumas das melhores instalações são aquelas que fazem da interação um momento de interesse e troca, de algum tipo de íntimo interesse e aproximação, de participação física, e não apenas de observação, mesmo se crítica e política, por parte do espectador.

Mas em 2004 eu vi aquela de que mais gostei até hoje: The Weather Project, na Tate Modern, feita, justamente, por Olafur Eliasson, que hoje tem um ateliê em Berlim e que fundou o Institute for Spatial Experiments na Universität der Künste Berlin, a universidade de artes de Berlim.

O Turbine Hall, o principal e maior espaço da Tate, tinha sido ocupado por um espelho gigante no teto, um grande foco de luz amarelo-avermelhada em meia-lua que, refletido no teto, virava um sol gigante, uma temperatura amena e uma névoa ligeiramente úmida.

Saindo do frio de janeiro em Londres, a reação das pessoas ao chegar ali era genial: erguiam-se braços, deitava-se no chão, cantava-se, fotografava-se: no espelho do teto a visão de homens minúsculos, a luz amarela, a névoa, tudo dava uma sensação de irrealidade e de alguma suspensão temporal que permitia aqueles gestos e aquele estado de espírito encantado. Nunca tinha visto nada assim, motivado por um ambiente.

Arte contemporânea é um negócio difícil. Muitos frequentemente a rejeitam com o argumento de, justamente, serem rejeitados por ela. Como se, ao não se ver retratado de alguma forma naquela arte, ou por não entenderem prontamente o que ela pode “querer dizer”, isso significasse que ela não presta ou, no limite, não é arte...

Não é culpa de ninguém, tudo depende mesmo de um aprendizado lento. Mas a questão é que desde a virada do século 19 para o 20, a arte não QUER realmente se fazer entender, não ao menos de um jeito óbvio. Faz parte do conceito da arte, desde então, uma certa concepção crítica, e autocrítica, uma discussão sofisticada e melindrosa com a tradição, um certo jogo de empurra, para o espectador, da responsabilidade sobre a construção daquele sentido. Olhar para a arte hoje dá mais trabalho, demanda mais informação, pede que a gente corra riscos e, muitas vezes — responsabilidade que assumo plenamente aqui — incorra na possibilidade de dizer bobagens. Mas como recusar a arte do nosso tempo? Não seria estranho, vivendo agora, a gente simplesmente dizer algo como “essa arte não me representa”?

Narcisos frustrados ou não, temos, claro, o direito de não gostar de muita coisa. Mas às vezes prestando mais atenção a gente pode até descobrir entradas possíveis, interesses, o outro ou a gente mesmo. E beleza: e ela pode aparecer de forma inusitada e surpreendente quando a gente faz um pouco mais de força pra se aproximar e entender.

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