O músico Mutant Cox e seu acervo magnético: geração “fitas demo”| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

As fitas cassete nunca deixaram de rodar na casa do músico curitibano Mutant Cox. “Tenho mais de quatrocentas fitas de sons do mundo inteiro ou de bandas antigas que não existem mais. Muitas delas eu mesmo fiz a capa no capricho”, diz, enquanto vasculha seu acervo.

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Veterano do underground local em bandas como Sick Sick Sinners e Hilbilly Rawhide, o músico é parte de uma geração que cresceu ouvindo, gravando e trocando fitas, mas que também viu o produto desaparecer do mercado no inicio do século 21.

Até que um fenômeno semelhante ao tinha acontecido com os discos de vinil há alguns anos devolveu prestígio às fitas cassete, numa onda retrô que já acontece no exterior há alguns anos.

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Nos Estados Unidos, a fábrica National Audio Company, que durante algum tempo foi a única a seguir manufaturando as fitas cassete, registrou um aumento de 20% na produção entre os anos 2014 e 2015 e viu outras empresas investirem no setor pelo mundo.

Fetiche

Inclusive no Brasil. Aqui, o estúdio FlapC4 de São Paulo anunciou que vai voltar a produzir fitas cassete totalmente nacionais. A empresa adquiriu um duplicador com capacidade para produzir cem fitas por hora. A partir do mês de maio, vai colocar à disposição de bandas e artistas que buscam o formato.

Segundo Fernando Lauletta, um dos sócios da FLAPC4, o estúdio nunca foi tão procurado quanto após ter anunciado que voltaria a produzir fitas. Para ele, o interesse nas fitas tem duas origens. “Há sim um certo fetiche com o produto exclusivo. Mas também há um lance de sair um pouco do computador. Hoje você consome música com imagem. No vinil e na fita, a imagem que se tem é a capa, e você ouve o álbum do início ao fim. Do jeito que ele foi pensado por quem o produziu.”

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Lauletta sabe que o público das fitas será segmentado. “Não temos pretensões de atingir o mainstream. Este consome o que está na TV aberta e em rádios populares”, afirma.

Qualidade x Produto

Para o produtor Álvaro Ramos, do estúdio Gramofone, a procura pelo cassete tem natureza mais afetiva do que técnica. “O cliente que compra tem perfil audiófilo. Gosta de lidar com seus equipamentos de som, trata os seus discos com uma espécie de adoração”, afirma.

Para ele, a discussão sobre a qualidade da audição é superada. Os formatos digitais ainda são superiores aos analógicos e nostálgicos, mas quem compra fitas cassete não é contra a música digital. “Só quer ter alguma coisa exclusiva em um formato diferente. O objetivo ao escolher o formato não é a qualidade e sim essa relação.”