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Silvino voltava do armazém com a carne do almoço quando o braço mecânico de um trator despejou sobre ele um jato de agrotóxico. Quatro dias mais tarde, a má sorte o colocaria outra vez exposto ao veneno agrícola, desta vez levado pelo vento através da janela. As conseqüências não demoraram 24 horas. Silvino Talavera tinha 11 anos de idade ao morrer intoxicado por organofosforado no dia 7 de janeiro de 2003. Foi uma das 423 vítimas fatais do agrotóxico naquele ano no Paraguai.

O drama de Silvino foi relatado pela mãe do menino em evento paralelo à Conferência de Biossegurança das Nações Unidas (MOP-3), no Expo Trade Pinhais. A paraguaia Petrona Villasboa e a argentina Sofía Gatica vieram contar a história de "vítimas do agronegócio", trazidas pelo Grupo de Reflexão Rural, da Argentina, e pela Rede por uma América Latina Livre de Transgênicos. Silvino tornou-se um símbolo de resistência contra a expansão e a monocultura de soja transgênica.

A carne levada por Silvino no momento da contaminação foi servida no almoço pela irmã, Sofía, 13 anos. Poucas horas depois, a mãe e os 11 filhos se contorciam com dores no estômago – a carne também havia sido contaminada. Exames comprovaram a presença de glifosato, carbamato e fenol no sangue das crianças, expostas aos agrotóxicos trazidos pelo vento das lavouras vizinhas. Silvino morreu de ataque cardíaco depois de agonizar com vômitos, diarréia, febre, desidratação e alergia no corpo todo.

"Viemos fazer um alerta sobre os riscos da expansão da monocultura da soja e o uso de transgênicos", disse Petrona. Segundo ela, o brasileiro Herman Schalender, que derramou veneno sobre Silvino, e o alemão Fredy Laustenlager, dono da área vizinha à casa do menino, foram condenados a dois anos de prisão e aguardam resultado do recurso na Justiça paraguaia.

Na Argentina, 5 mil moradores do bairro Ituzaigó, em Córdoba, sofrem os efeitos da contaminação por agrotóxico. Segundo Sofia Gatica, a comunidade está cercada por plantações de soja, com uma única via de escape. A pulverização feita por avião nas propriedades vizinhas contaminou a todos e desde 2001 os moradores perceberam que o veneno agrícola provoca a má-formação de fetos. Crianças nascem sem os dedos, sem o maxilar, com câncer ou problemas renais – há oito anos, uma filha de Sofia morreu poucos dias depois de nascer, com má-formação dos rins. Até então ela não havia se dado conta de que a causa estava nos pesticidas. Ali, há 14 casos de leucemia, um para cada grupo de 357 pessoas, enquanto a média mundial é de um caso para cada grupo de 100 mil pessoas. O bairro, segundo ela, chegou a ser declarado inabitável por um renomado epidemiologista do país.

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