O auditório do Centro Paranaense Feminino de Cultura, na Rua Visconde do Rio Branco, foi perfeito para criar o clima íntimo do espetáculo Moods and Modes, na noite da última sexta-feira, com um duo de jazz trazido ao país pelo Instituto Goethe de Curitiba.
O trombonista alemão Nils Wogram e o pianista russo Simon Nabatov subiram ao palco para mostrar composições próprias. A formação incomum reflete a originalidade das músicas. É um jazz repleto de surpresas e variações.
A certa altura, Wogram começa a tocar, mas o que se ouve é apenas o sopro dentro do instrumento. O trombone vira quase um item de percussão (em outro ponto da apresentação, o músico dá tapas no metal para tirar dele um som diferente Nabatov faz o mesmo batendo na madeira do piano).
Na maior parte do tempo, os dois valem por muitos e a ausência de outros instrumentos, como baixo e bateria, não é sentida. Talvez essa formação minimalista explique um pouco do estilo de Nabatov, que parece golpear o piano com vontade enquanto faz o papel do baixo.
Por algum motivo obscuro, o trombone de vara não tem muitos adeptos famosos na história do jazz (o maestro Glenn Miller talvez seja o maior deles) e não é o único a exigir fisicamente de quem o toca. Mas é difícil imaginar um show com uma hora e meia de duração em que o trombone esteja no centro das atenções. Por tudo isso, o desempenho de Wogram foi inesquecível.
O alemão deixa claro que é capaz de interpretar qualquer coisa com o trombone. As composições de Moods and Modes (o disco saiu na Europa no ano passado) funcionam como epopeias musicais, como se narrassem aventuras com começo, meio e fim.
Por exemplo: Wogram apresenta um fragmento que começa muito baixo, baixo demais para emitir qualquer nota no trombone. Lentamente, o volume aumenta e é possível perceber a melodia. A música cresce até o som pleno do instrumento, que então dá espaço para o piano de Nabatov.
Em várias partes do show, trombone e piano dialogavam no que pareciam perguntas e respostas. Em outras, falavam juntos como se concordassem com o que estava sendo dito. O entrosamento dos dois ficou evidente e o resultado foi uma plateia entusiasmada. No fim, a dupla voltou para o bis o único ponto da noite em que tocaram uma composição alheia e o arremate do espetáculo aconteceu com uma bela versão de "Lady Sings the Blues", de James van Heusen (música muito associada a Billie Holiday). GGGG