Se existe um músico feliz com a pirataria, este é o catarinense Orlandivo. Autor de sucessos como "Bolinha de Sabão", "Vô Batê Pá Tú" e "Tudo Jóia", o músico andava esquecido e não gravava há 30 anos. Até que, no início desta década, DJs europeus descobriram seus antigos Lps então fora de catálogo e começaram a comercializar CDs "genéricos" com suas canções.
Na esteira dos gringos, novos fãs brasileiros também entraram na onda e passaram a cortejar o artista, que hoje faz shows concorridos no Rio de Janeiro e acaba de lançar o álbum "Sambaflex". "A juventude está revivendo várias músicas antigas e levando para as pistas de dança. É o que dá pé agora. Essa pirataria 'da boa' é que me trouxe de volta", explica Orlandivo, de 68 anos.
Apesar de viver um momento de redescoberta de sua obra, o músico nunca saiu de cena. Famoso no auge da era dos bailes, na década de 60, o ex-crooner do conjunto de Ed Lincoln se manteve na ativa durante todos esses anos, apresentando-se em clubes e casas noturnas menos votadas. Um verdadeiro operário da música, como tantos outros espalhados pelo país.
Nascido em Itajaí (SC), Orlandivo (que já assinou como Orlann Divo, mas optou pela forma mais simples) chegou ao Rio aos 11 anos, acompanhando o pai, funcionário da Marinha Mercante. Já tocava gaita de boca e havia se apresentado em alguns programas de rádio, porém só entrou de cabeça no mundo artístico quando fez amizade com o então compositor Paulo Silvino. Foi o futuro humorista, seu primeiro parceiro, quem o apresentou ao meio musical carioca. "Servíamos juntos no Ministério da Guerra. O Martinho da Vila também fazia parte do contingente", lembra.
Daí para os primeiros shows e gravações foi um pulo. Conhecido pelo som que tirava de seu molho de chaves, Orlandivo passou a compor para intérpretes de peso (Claudete Soares, Wilson Simonal, Cauby Peixoto), escreveu jingles e trilhas sonoras, participou de programas de tevê e assumiu o posto de destaque no já mencionado conjunto de Ed Lincoln. Isso nos anos 60, porque na década seguinte ele ganharia sobrevida graças à música "Vô Batê Patú", sucesso na interpretação de Baiano e os Novos Caetanos (grupo que satirizava o Tropicalismo, encabeçado pela dupla Chico Anysio e Arnaud Rodrigues).
Mas a fila andou e Orlandivo caiu no ostracismo, como praticamente todos os seus colegas de geração. "Eu era da gravadora Musidisc, uma empresa totalmente brasileira que vendia muitos discos de gente como Bob Fleming, Silvio César, Orquestra Panamérica. Quando a Musidisc fechou, o mercado também se fechou para nós. Poucos foram contratados pelas multinacionais", avalia.
"Sambaflex", lançado pelo selo carioca Deckdisc, traz regravações de suas canções mais famosas com arranjos atualizados. Uma verdadeira aula, para não-iniciados, sobre sambalanço e samba-rock, subgêneros aos quais Orlandivo é normalmente associado mas que preferia não ser. "Tem elementos de samba, bossa nova, batidas dançantes. É tudo balanço. Não vejo meu som como samba-rock, por exemplo, até porque eu surgi antes do Jorge Benjor. O samba-rock é que tem a ver comigo", afirma, sem soar imodesto.
Para o catarinense, o rótulo perfeito seria "sambaflex", que dá nome ao quinto disco de sua inusitada trajetória. "O samba aceita tudo, dá para misturar o que quiser com ele. Rock, bossa, funk, jazz... Por isso sambaflex!". Bendita flexibilidade.
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