Rodrigo Santoro já não é mais o único ator brasileiro a ter conquistado seu espaço, mesmo que ainda discreto, na constelação de astros do cinema norte-americano. Há alguns anos, desde o estrondo causado por Cidade de Deus (2002) no mercado internacional, a atriz paulista Alice Braga, que jamais participou de uma telenovela, vem intercalando papéis em filmes brasileiros e produções estrangeiras, algumas de grande orçamento, como Eu Sou a Lenda (2007), trama futurista de grande bilheteria estrelada por Will Smith.
Com vários longas falados em inglês no currículo, Alice revisita agora o cinema de ficção científica na superprodução Elysium, novo filme do diretor Neill Blomkamp, revelado por Distrito 9 (2009), sucesso de público e de crítica que acabou disputando o Oscar de melhor filme. E a sobrinha de Sonia Braga, outra estrela nacional que fez nome em Hollywood, não está sozinha no elenco.
Blomkamp, depois de assistir aos dois filmes da franquia Tropa de Elite, de José Padilha, decidiu que não faria seu próximo trabalho sem o capitão Nascimento no elenco, e convidou Wagner Moura para viver um dos papéis mais importantes de Elysium.
"Quando li o argumento, os primeiros tratamentos do roteiro, aceitei o convite na hora. Tinha adorado Distrito 9, e vi naquela história a oportunidade de fazer um trabalho interessante, e abrir uma porta para o mercado internacional", relata Moura, que devido à espera pelo início da rodagem de Elysium, que ocorreu na cidade de Vancouver, no Canadá, chegou ao set com uma concepção de Spider, seu personagem na trama, um tanto diferente da que Blomkamp havia criado em seu roteiro. "Eu criei uma voz, um gestual, que não estavam no papel, mas o Neill gostou e disse que eu poderia fazer", disse à Gazeta do Povo o ator, que estranhou um pouco o fato de interpretar em inglês. Sobre a experiência de participar de uma produção de US$ 115 milhões, Wagner disse que, ao mesmo tempo em que é algo muito diferente do que é feito no Brasil em termos de cinema, por conta dos recursos tecnológicos e da abundância de dinheiro ("É tudo muito grande!"), esse aspecto industrial afetou menos do que esperava o seu trabalho de ator, que, no fundo, "é, basicamente, a mesma coisa", uma vez ligadas as câmeras.
Político
Spider, vivido por Moura, é um sujeito ambíguo, nem herói nem vilão. A ação de Elysium se passa em 2154, quando a Terra se tornou um planeta degradado, corroído pela ambição desmedida, pela corrupção generalizada e pelo descaso com a lei e o meio ambiente. Os mais ricos foram embora, se instalando em uma espécie de estação espacial gigantesca em forma de planeta artificial, onde não há crimes, doenças e as pessoas não envelhecem nem morrem. O lugar, que leva o nome que dá título ao filme, é uma espécie de Shangri-La, paraíso dos abastados e poderosos.
Como já havia feito em Distrito 9, na trama de Elysium Blomkamp cria uma metáfora do mundo contemporâneo, sobre os muitos muros, invisíveis ou não, que separam os poucos que tudo podem dos milhões que padecem sem teto nem lei. Entre esses descamisados está Max da Costa (Matt Damon), que cresce órfão na periferia de uma Los Angeles dominada pelos hispânicos, onde se fala tanto ou mais espanhol do que inglês. Tem como melhor amiga e paixão de infância Frey, personagem vivida na fase adulta por Alice Braga.
"Foi o Wagner que indicou o meu nome ao Neill, que queria montar um elenco multinacional. Ao ler o roteiro, eu me encantei pela Frey, uma mulher forte, sofrida, mas batalhadora, que tem opiniões próprias e muita coragem", disse Alice, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo.
Max, depois de um grave acidente de trabalho, se vê com os dias contados e, no hospital, reencontra Frey, cuja filha sofre de um caso terminal de leucemia. Tanto ele quanto a menina só têm chances de sobrevivência se forem tratados em Elysium, que tem leis muito restritas de imigração, assim como os Estados Unidos dos dias atuais: muitos tentam entrar ilegalmente, mas poucos sobrevivem à implacável vigia, comandada por uma ministra xenófoba e implacável, vivida por Jodie Foster.Na tentativa de encontrar uma forma de fazer a travessia espacial, Max recorre a Spider, um misto de hacker, capaz de quebrar todo e qualquer código, e coiote, que promove o tráfico de humanos que querem arriscar entrar clandestinamente em Elysium.
"O interessante do filme é que além de ser uma superprodução de ficção científica, também é, como Distrito 9, uma trama com forte conotação política, que também faz uma crítica contundente ao mundo de hoje", diz Wagner, que durante as filmagens machucou a perna e pegou pneumonia devido ao frio inclemente do Canadá.
Classificada como "fantástica" pela crítica Manohla Dargis, do diário The New York Times, a atuação de Moura deve abrir-lhe novas oportunidades em Hollywood. Desde que fez o filme, conta, já foi sondado para outros projetos, mas não há nada ainda que possa divulgar. "É legal o reconhecimento, o elogio. As pessoas estão gostando do trabalho. Agora quero ver o que meus amigos lá na Bahia vão achar", brincou.
Em breve, Moura será visto na saga Serra Pelada, de Heitor Dhalia, que terá sua estreia de gala no encerramento do Festival do Rio e estreia em 18 de outubro em circuito nacional; A Praia do Futuro, novo longa-metragem do cearense Karim Aïnouz; e deverá fazer em breve sua estreia como diretor em uma cinebiografia do guerrilheiro Carlos Marighella, na qual não deve atuar, pelo menos não como protagonista.
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