Patti Smith passeia por universos poéticos e imagéticos em Banga, seu 11º disco de estúdio| Foto: Divulgação
CARREGANDO :)
Neil Young revisita clássicos do folk norte-americano com a banda Crazy Horse em Americana
CARREGANDO :)

Há muitas coisas em comum entre Neil Young e Patti Smith. Além de apenas um ano de diferença de idade – ele tem 66, ela 65 –, ambos são cantores e compositores que fizeram história no rock-and-roll e permanecem na ativa, inspirando músicos das novas gerações. Os dois são defensores ferrenhos do meio ambiente e nutrem verdadeira paixão pela literatura: são também escritores. Patti foi premiada com o National Book Award na categoria de não ficção por Só Garotos (Companhia das Letras), autobiografia em que descreve o início de sua carreira e o relacionamento com o fotógrafo Robert Mapplethorpe (1946-1989). Neil colaborou na escrita do enredo da HQ Greendale, inspirada em um disco conceitual que ele gravou com a banda Crazy Horse em 2003, e acaba de anunciar que está finalizando uma "espécie de diário fantasiado", Waging Heavy Peace, que deve chegar às lojas internacionais em outubro deste ano.

Tanto Neil quanto Patti lançaram discos novos na última terça-feira (5) e os trabalhos, assim como seus autores, também acumulam coincidências. Americana é o primeiro álbum de Neil Young ao lado dos músicos do Crazy Horse em nove anos. Banga é o primeiro registro a reunir músicas inéditas de Patti Smith em oito anos. Ambos foram gravados com a colaboração de antigos parceiros musicais e amigos e já são tidos como as melhores obras de Neil e Patti em anos. Não à toa, os dois anunciaram na semana passada que sairão juntos em turnê. Em novembro, o Patti Smith Group fará as aberturas de sete

Publicidade

shows de Neil Young & Crazy Horse em cidades do Canadá e Estados Unidos, com direito a uma apresentação no Madison Square Garden, em Nova York.

Viagens

Batizado com o nome do cachorro de Pôncio Pilatos em O Mestre e Margarida, romance do escritor russo Mikhail Bulgákov, Banga é o 11.º disco de estúdio de Patti Smith, descrita pelo comitê da premiação sueca Polar Music Prize no ano passado como um "Rimbaud com amplificadores". Eis que Patti faz jus ao oportuno epíteto nas 12 canções do novo trabalho: mescla seu vasto repertório de referências literárias, míticas, históricas, religiosas e musicais, improvisando versos sobre o fazer artístico.

Acompanhada por seus parceiros de longa data Lenny Kaye (guitarra), Jay Dee Daugherty (bateria), Tony Shanahan (baixo) e Tom Verlaine (guitarrista da banda Television), a cantora contou ainda com as participações de seus filhos, Jackson e Jessie, do grupo de folk italiano Casa del Vento e do amigo Johnny Depp.

Logo na abertura, "Amerigo", Patti narra as aventuras do navegador italiano Américo Vespúcio na busca pela descoberta do Novo Mundo. Viagens por terras desconhecidas dão ainda o tom da psicodélica "Tarkovsky (The Next Stop Is Jupiter)" e da longa "Constantine’s Dream", que transita pelo universo imagético do pintor renascentista Piero della Francesca (1415-1492).

Publicidade

A vulnerável "This Is the Girl" presta tributo a Amy Winehouse, enquanto que "Maria" lembra a atriz Maria Schneider, ambas mortas no ano passado. A única canção de Banga a não sair da caneta de Patti Smith é, justamente, um clássico de Neil Young: a belíssima "After the Gold Rush", em que a voz grave da cantora é contraposta a um coro infantil.

Releituras

Totalmente composto por releituras pessoais de clássicos do folclore dos Estados Unidos, Americana reúne Neil Young à banda Crazy Horse para mostrar um outro lado de canções conhecidas à exaustão, até por nós, brasileiros. Estão no repertório, por exemplo, "Oh Susannah" (aquela de "não chores mais por mim"), "Clementine" (a nossa "querida Clementina") e "Jesus’ Chariot (She’ll Be Coming Round the Mountain)" (dos versos "ela vem pela montanha").

Mas não pense que será possível cantar junto com as versões presentes em Americana. Young e os músicos do Crazy Horse tentaram criar uma intensidade à altura das canções originais, muitas vezes divulgadas com versos a menos, mais sombrias e políticas do que parecem à primeira audição.

A icônica "This Land Is Your Land", de Woody Guthrie, e a spiritual "Wayfarin’ Stranger" são as únicas a não contar com a característica guitarra distorcida de Young. Nas demais, o que se ouve é rock, country e blues tocados por uma banda que, mesmo distante do cantor há nove anos, parece nunca ter saído do seu lado.

Publicidade