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O fotógrafo paranaense João Urban preocupa-se há cerca de 20 anos em conciliar os seus trabalhos com publicidade e fotografia documental. Os imigrantes poloneses, os tropeiros e os bóias-frias já foram o alvo de suas lentes até "culminar na religiosidade sincrética que nos invade e se transforma numa fé peculiar". É o que contam as primeiras páginas do volume dedicado ao seu trabalho, publicado pela Editora Senac. O livro, lançado em dezembro do ano passado, é um dos dez volumes da Coleção Senac de Fotografia, que será apresentada durante a 19.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que inicia-se hoje.

"João Urban sempre procura uma brecha entre seus compromissos com a fotografia publicitária para desenvolver os temas que lhe são caros. Muitas vezes, uma equação difícil de ser resolvida, pelo tempo que a fotografia documentária requer", escreve a estudiosa Simonetta Persichetti, idealizadora e organizadora da coleção, ao lado de Thales Trigo.

Em entrevista, Persichetti revela que essa relação de conciliação entre o trabalho comercial e o autoral é uma das características da fotografia brasileira. "Eu acho que a fotografia daqui não deixa nada a dever para a mundial, muito em função da criatividade e originalidade dos fotógrafos. Eles conseguem transitar entre nichos específicos, como a fotografia de moda, publicidade ou fotojornalismo, e fazer trabalhos paralelos. O curioso é que acaba não existindo a separação entre um e outro: tudo o que fazem acaba trazendo as suas marcas, suas autorias", argumenta a pesquisadora.

Simonetta, que se dedica ao estudo e pesquisa sobre fotografia há duas décadas, conta que a proposta da coleção é dar conta de uma produção reconhecida, porém pouco conhecida. "Apesar da publicação de livros ter crescido muito no Brasil, faltava uma panorâmica sistematizada da produção", argumenta. A intenção é trazer para a coleção realizadores que já contam com uma produção consolidada, mas que jamais publicaram livros, não tiveram oportunidade de divulgar melhor seus trabalhos em grande escala, ou são conhecidos apenas em seus locais de origem. "São pessoas que em algum momento ajudaram a transformar a fotografia no Brasil", resume Persichetti. A coleção busca abranger a maior diversidade possível de fotógrafos em nível nacional, seguindo os moldes de coleções similares existentes em países como a França e Espanha. Cada volume é realizado em parceria com o fotógrafo em questão. Ele tem a autonomia para selecionar as fotografias e avalizar todos os texos. Cada volume conta com um ensaio introdutório que resume a produção do fotógrafo e introduz à seqüência de trabalhos.

Segundo a fotógrafa curitibana Milla Jung, do Núcleo de Estudos de Fotografia de Curitiba, o trabalho cumpre um importante papel de registro. "É uma coleção muito interessante porque lida com trabalhos sérios feitos a longo prazo, muito autorais, que pensam diversas questões da fotografia atual. É fundamental porque ninguém conhece a fotografia feita no Brasil", elogi. Ela acrescenta que em julho Simonetta Persichetti virá à Curitiba para lecionar no Núcleo de Fotografia.

Na 19.ª Bienal do Livro, Senac está lançando o nono e o décimo volumes da série, dedicados, respectivamente, a Thomaz Farkas e Klaus Mitteldorf.

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