Se a montagem da peça "Os Dois Cavalheiros de Verona" realizada pelo grupo Nós do Morro na Mostra Oficial desta edição do Festival de Teatro de Curitiba (FTC) tivesse outro título, esse poderia ser "Meu camarada Shakespeare". O dramaturgo inglês é tratado com intimidade pelos atores do grupo carioca, que realizam uma comédia divertida e com estilo bastante singular, trazendo o texto para perto da realidade do grupo.
O Nós do Morro realizou a montagem - único espetáculo brasileiro a participar do maior festival do mundo dedicado a Shakespeare (The Royal Shakespeare´s Complete Works Festival), na cidade natal do dramaturgo (Stratford-upon-Avon), na Inglaterra - para comemorar os 20 anos do projeto. Criado em 1986, o Nós do Morro, sediado no morro do Vidigal, no Rio de Janeiro, surgiu quando o diretor teatral Guti Fraga, que até então dirigia Marília Pêra, foi convidado para montar um grupo de teatro com membros da comunidade. Fraga então desistiu de sua estabilidade para arriscar na nova empreitada, que já rendeu muitos frutos no teatro, cinema e televisão.
Não cabe aqui discutir a novidade da proposta. Contando desde realizações mais fiéis ao original até as livres interpretações, William Shakespeare é um dos autores ocidentais mais montados no mundo. Difícil achar uma que revele um ponto de vista original. E essa não parece ser a preocupação principal de Guti Fraga: "Montar Shakespeare na verdade foi como montar qualquer outro espetáculo", afirma.
Seu objetivo ao realizar a comédia centra-se muito mais na montagem, na energia que ela deveria transmitir, mesmo com poucos recursos cênicos além do ator. Não há cenário, sendo que os próprios atores que não estão em cena constituem-se em estátuas, paredes e bancos com a ajuda de tecidos. A música é totalmente tocada pelos atores, com canto, violão e tambores. Aliás, a história e contada de forma muito musical, com quatro prólogos cancionados entre os atos da peça. "A montagem é simples, visceral e alegre, assim como o amor dos jovens, tema da peça. A concepção é baseada nisso, na energia jovem", explica o diretor.
O enredo da "primeira comédia romântica de Shakespeare", como classifica Fraga, traz a história de dois cavalheiros, Valentino e Proteu, grandes amigos em Viena. O primeiro sai da cidade em busca de sucesso na corte do Duque de Milão, e acaba se apaixonando pela filha do anfitrião, Silvia. O Segundo, que ficou em Viena por estar apaixonado por uma dama local, Júlia, acaba sendo obrigado pelo pai a ir para Milão também. Lá os amigos se encontram, mas Proteu também se apaixona por Silvia e trama contra o amigo para ficar com a filha do duque. Julia, se sentindo abandonada em Viena, vai disfarçada de homem para Milão encontrar seu amado.
Em palco, o texto foi interpretado de forma dinâmica e atraente, o que sustentou as quase duas horas de espetáculo e deixou nítido que os atores têm qualidade e "dão conta do recado". No entanto, o espaço cênico dificultou a compreensão de muitas passagens, principalmente das canções. O Guairão se revelou um teatro grande demais para a montagem. Fora isso, a liberdade de ter Shakespeare como amigo, e não um ídolo intocável, garantiu mobilidade e estilo a peça, que é sim representativa de uma fatia do Brasil.
Serviço: Os Dois Cavalheiros de Verona. Dias 22 e 23 de março, às 20h30. Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto (Guairão). Rua Conselheiro Laurindo, s/nº. Centro. Fones: 3304-7900 / 3304-7999.
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