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Existem várias formas de se reconhecer um Woody Allen. As marcas do cineasta são tão pessoais que, por vezes, basta olhar uma foto ou ouvir uma música. Seus filmes têm uma fotografia característica, trilha sonora típica de alguém que adora jazz – principalmente dixieland –, elencos invejáveis e Nova Iorque como cenário. Não importa sobre o que se trata, se você vai ver um filme novo de Allen, deve encontrar vários desses detalhes na tela.

Comentários indicam que o cineasta nova-iorquino vai mudar de receita em Match Point – novo trabalho ainda sem data de estréia no Brasil –, filmado na Europa e embalado ao som de ópera. Mas esse não é o caso de Melinda e Melinda, que está chegando às locadoras.

Durante um jantar, os escritores Sy (Wallace Shawn) e Al (Neil Pepe) discutem quais ingredientes fazem uma história ser trágica ou cômica. Sy defende sua versão (trágica) e narra a história de Melinda, uma mulher perturbada que chega rompante durante o jantar dos amigos Hobie (Will Ferrell) e Susan (Amanda Peet). Ela é infeliz, tomou uma cartela de calmantes e passa mal.

Lá pela metade do longa-metragem, é a vez de Al descrever sua visão (cômica), usando a mesma Melinda, menos fatalista e mais meiga, em situações adversas e supostamente engraçadas. O "supostamente" se explica por que a crítica mais freqüente ao filme é que a parte cômica não faz rir e a trágica não faz chorar. Outros reclamam que Allen não foi fiel aos conceitos de tragédia e comédia que deveriam orientar os dois narradores do prólogo.

Melinda e Melinda não consegue disfarçar uma certa afetação – seja em referências a figuras trágicas retratadas em óperas pouco conhecidas ou ao universo entojado do Upper East Side de Nova Iorque. No quesito piadas, o trabalho anterior de Allen, Igual a Tudo na Vida, é melhor. Ainda assim, Melinda tem diálogos impagáveis:

– Você sente que a gente não se comunica mais?

– Claro que nos comunicamos. Agora, podemos não conversar mais sobre isso?

Melhor ou pior, por todos os fatos descritos no primeiro parágrafo deste texto, um filme do Woody Allen sempre tem seus encantos. GGG

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