Marlos Gonçalves tinha 14 anos quando Raul Seixas morreu, em 21 de agosto de 1989. Já era fã do cantor e compositor baiano e essa veneração, com o tempo, se tornou algo fundamental em sua vida. Por causa dela, aprendeu a cantar e tocar violão, de preferência músicas do repertório do ídolo. E também formou uma banda, a Paranoia, dedicada a prestar tributo ao artista. Mas seu fanatismo pelo roqueiro não parou por aí: seu filho mais velho, coincidentemente hoje também com 14 anos, se chama Raul.
"Ele está começando a escutar os discos, a aprender a gostar do Raul. Minha filha mais nova já é fã. Por enquanto, ele está mais ligado ao futebol. Não larga a bola, mas curte rock, também", conta Marlos, um das dezenas de integrantes do Geração Alternativa Rock Clube, fã clube do cantor sediado em Curitiba, que compareceram em peso a uma das sessões noturnas do documentário Raul Seixas O Começo, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho, na última sexta-feira, quando o filme estreou em Curitiba, no multiplex UCI do Shopping Estação.
O Geração Alternativa não é qualquer fã-clube. É o segundo maior do país, depois do Raul Rock Club, com sede em São Paulo. Criado em 1990 pelo contador Fabiano Silveira, seu atual presidente, hoje conta com 70 associados, site na internet e até mesmo uma sede, no bairro do Boqueirão. Na verdade, trata-se de um cômodo de 20 metros quadrados, dentro da casa de Fabiano e de sua mulher, Margareth Kaminski (outra fã), batizado carinhosamente de "O Quarto do Raul", onde eles mantêm a discografia completa do artista, em LPs, compactos simples e duplos, além de CDs, sem falar de DVDs, fitas de videocassete, recortes de revistas, jornais e outros documentos, cuidadosamente guardados no interior é claro do "Baú do Raul".
Além de todo esse acervo, "O Quarto do Raul" também abriga um inusitado morador: um boneco, em tamanho quase natural feito à imagem e semelhança do cantor , que marca presença em todos os eventos relacionados ao Geração Alternativa. E ele estava lá, entre os fãs, na última sexta-feira para assistir ao filme, que ao ultrapassar a marca de 100 mil espectadores, no último fim de semana, se tornou um dos cinco documentários mais vistos no Brasil de todos os tempos e tem chances de se tornar o grande campeão de bilheterias desse gênero cinematográfico.
Bruxaria
Tanto Silveira quanto Marlos gostaram muito do filme. O presidente do fã-clube já o tinha visto, como convidado oficial, duas vezes antes: em sua primeira exibição, no Festival do Rio do ano passado, e na pré-estreia em São Paulo, no dia 20 de março. "Adorei. É muito bom, mas também polêmico. Teve gente que ficou meio assustada ao ficar sabendo do lado mais negro do Raul, envolvendo bruxaria", diz Silveira, referindo-se ao trecho do documentário que trata do envolvimento de Raul e Paulo Coelho, então parceiro do cantor, com a Sociedade Alternativa, fundada pelo dois em 1970, a partir dos escritos do ocultista britânico Aleister Crowley.
Para Marlos, o grande mérito da produção é conseguir mostrar, ao mesmo tempo, a grandiosidade do artista que Raul Seixas foi, e sua fragilidade como homem. Como essas duas facetas estavam interligadas.
Tributo
A banda de Marlos, a Paranoia, foi criada em 2005 a partir de uma sugestão de Fabiano, para quem o Geração Alternativa precisava de um grupo oficial. O vocalista faz questão de explicar que não se trata de um grupo cover. "Fazemos tributo à obra dele, sobretudo ao repertório lado B, mas não tento imitá-lo, me vestir como ele", diz o cantor, que também é dono do bar e casa de shows A Casa do Tal, no bairro Novo Mundo, onde a Paranoia costuma se apresentar. Ele calcula que façam de três a cinco shows por mês em Curitiba, interior do Paraná e Santa Catarina. "Não fazemos mais porque as pessoas ainda esperam algo mais próximo de uma banda cover."
Todos os anos, no mês de agosto, o Geração Alternativa promove festas-shows, com a Paranoia e artistas cover. Em 2009, quando foram lembrados os 20 anos da morte de Raul, a homenagem aconteceu na Sociedade 13 de Maio, em Curitiba, e registrada em DVD.
Essas apresentações, em certa medida, servem para compensar o fato de que a maior parte dos integrantes do Geração Alternativa, hoje entre 30 e 40 anos de idade, não chegou a ver Raul ao vivo. "Eu tinha 14 anos quando ele passou por Curitiba e fez show, com o Marcelo Nova, no Ginásio do Atlético, meses antes de morrer, em 1989. Queria muito ter assistido ao show, mas não fui", conta Fabiano.
Rauzitos - Geração Alternativa Rock Clube www.geracaoalternativa.webs.com. Taxa de inscrição: R$ 30.
Deixe sua opinião