Neste ano, muito se falou sobre os 20 anos de Nevermind, segundo álbum de estúdio do Nirvana que lançou a banda para o mundo, além de colocar a cena grunge de Seattle em destaque. Outro disco que festeja duas décadas em 2011 é Ten, do Pearl Jam, cuja turnê comemorativa passa por Curitiba no próximo dia 9 de novembro. Somente com esses dois exemplos já valeria dizer que o ano de 1991 foi um bom ano para o rock. Porém, naquele mesmo início de década, o mundo conheceu um dos discos mais poderosos do Red Hot Chili Peppers, ouviu o hit "Losing My Religion", do R.E.M., e assistiu ao fenômeno Use Your Illusion, dos Guns N Roses, cuja edição dupla vendeu 500 mil cópias apenas no dia em que chegou às prateleiras.
Foi naquele início de década que bandas já conhecidas, como o Mettalica, tiveram discos bem recebidos pela crítica e com sucesso estrondoso de vendas. O álbum homônimo, também chamado de "Black Album", o quinto do grupo, começou a ser vendido no dia 12 de agosto de 1991 e, até hoje, alcançou a marca de mais de 20 milhões de cópias. "Nothing Else Matters" foi uma das canções que reinou nas paradas de sucesso antes do "Smells Like Teen Spirit" de Kurt Cobain. Já os irlandeses do U2 conseguiram com Achtung Baby inaugurar uma nova direção musical para logo depois estrear sua primeira megaturnê mundial (a Zoo TV).
Veteranos, mas ainda longe do mainstream, o Red Hot Chili Peppers conseguiu em 1991 chegar ao grande público com Blood Sugar Sex Magik. "Give It Away" e "Under the Bridge", homenagem do vocalista Anthony Kiedis ao amigo e ex-guitarrista Hillel Slovak (morto em 1988), foram os principais hits. Apesar de manter a pegada funk, os Chili Peppers diversificaram a sonoridade, feito atribuído em grande parte ao produtor Rick Rubin. "Rubin teve um papel fundamental. É o melhor disco deles, sem dúvida", diz o guitarrista da Anacrônica, Bruno Sguissardi, que teve uma banda cover dos californianos na adolescência e conheceu o disco em 1992, pelo irmão mais velho.
Entre os grunges e os experientes que seguiam para uma nova sonoridade, o R.E.M., que anunciou o seu fim no mês passado, apresentava a energia de Out of Time. "[O disco] Mantém o som anterior deles, sem se importar muito com o que estava acontecendo com os grunges", diz o colecionador e importador de discos Horácio de Bonis. Sobre o fato de Michael Stipe ter declarado que uma das faixas do álbum "Shiny Happy People" o envergonhava, De Bonis acredita que ela não estraga o CD. "A música é ruim mesmo, mas é perdoável."
O guitarrista Rodrigos Lemos (A Banda Mais Bonita da Cidade, ex-Poléxia e com o atual projeto-solo Lemoskine) lembra que, além do Nevermind ("disco que me fez querer ter uma banda"), outro lançamento de 1991, Trompe Le Monde, dos Pixies, foi importante e, curiosamente, ia na contramão da onda de Seattle, por ser a última obra da turma de Black Francis (hoje Frank Black). "Justamente quando o Nirvana introduzia o alternativo nas paradas de sucesso, eles se despediam. Kurt Cobain admitiu ter roubado a fórmula estrofe calma mais refrão pesado dos Pixies." Lemos destaca também o papel primordial da MTV Brasil neste contexto, que na época tinha um ano de vida, e "ilustrou" o que estava nas paradas de sucesso lá fora.
Formados em Chicago em 1987, os Smashing Pumpkins compilaram algumas canções já divulgadas em uma de suas demos e trouxeram Gish em 1991. Assim como Bleach (1989), do Nirvana, o trabalho foi bem recebido, mas ficou restrito aos meios alternativos. O grupo liderado por Billy Corgan sentiu a pressão do mercado. Em uma entrevista para a MTV americana em 1993, Corgan declarou: "nós nos graduamos em ser o próximo Janes Addiction, o próximo Nirvana e agora o próximo Pearl Jam". Deprimido, ele e os demais integrantes (James Iha, DArcy e Jimmy Chamberlin) trabalharam freneticamente no disco posterior Siamese Dream (1993), que lhes renderia a almejada fama.
Brasileiros
Já o rock nacional passava por uma entressafra naquele mesmo período. As bandas do BRock dos anos 1980 já haviam lançado seus álbuns mais relevantes e o aparecimento de novos grupos e estilos (como Skank, Raimundos e Nação Zumbi, por exemplo) ainda estava no horizonte. "O rock nacional já tinha dado o que tinha que dar, as bandas não estavam mais no auge da criatividade. Por isso a cena grunge dominou", recorda o ex-líder da Relespública, Fábio Elias. A cantora Marisa Monte foi a única a despontar naquela época, com o segundo disco Mais e Legião Urbana e Paralamas do Sucesso prolongavam o reinado oitentista com V e Os Grãos, respectivamente.
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