Os livros que tratam de épocas remotas são capazes de dizer algo sobre o tempo em que foram escritos?
A pergunta foi lançada para os dois pesquisadores ouvidos pela reportagem, ambos doutores com estudos que tratam justamente de ficção histórica: Marilene Weinhardt e Benedito Costa Neto.
"Mesmo alguns historiadores admitem que os estudos dizem mais sobre a época dos estudiosos do que sobre a época estudada. Com maior razão se dirá dos textos de criação, como mais significativos sobre a época que os produz do que sobre o período representado. Mesmo quando se trata de fuga, a alienação também é significativa", diz Marilene.
Ela defende que o contato com o passado não tem o poder de melhorar o presente. "No caso das melhores realizações (literárias), se busca o passado como forma de entender o presente. A escolha desta ou daquela fase, não é acidental, seja porque há paralelos possíveis e aí muitas vezes se produz uma literatura de caráter alegórico seja porque o presente é apresentado como conseqüência do passado. Mas não há razões para ser muito otimista, conhecer o passado não é garantia de que o presente seja melhor, apenas temos maiores chances de compreendê-lo."
Para Benedito Costa Neto, a ficção histórica revela algo sobre o presente se este for o desejo do escritor. "Mas a questão é mais profunda do que parece porque passa por outras como a da escritura, a da investigação histórica, a da abordagem do dado, a da historiografia. Ninguém duvida se dissermos que Nefertite foi esposa de um faraó que construiu uma cidade, pois isso parece resolvido. Mas quando mostramos um pai dizendo ao filho olha, não chore porque seu pai volta logo, não paramos para pensar na noção de pai, na noção de filho e na noção de voltar logo que havia na época que descrevemos."
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