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Os Boas-Vidas: homens matam o tédio com conversas intermináveis, festas, bebedeiras e pequenas travessuras de adolescentes | Divulgação
Os Boas-Vidas: homens matam o tédio com conversas intermináveis, festas, bebedeiras e pequenas travessuras de adolescentes| Foto: Divulgação

São Paulo - Terceiro longa de Federico Fellini, Os Boas-Vidas (1953) é uma obra satírica, estudo de costumes de certo meio social que já traz os rudimentos do universo do cineasta, apresentado ainda sem a exuberância posterior.

Em uma pequena cidade costeira da Itália no período pós-Guerra, um grupo de cinco rapazes de classe média leva uma existência ociosa, sem profissão ou projetos para o futuro, morando com as famílias. Eles matam o tédio com conversas intermináveis, festas, bebedeiras e pequenas travessuras de adolescentes, embora tenham entre 25 e 30 anos.

Essa vida sossegada, da qual pensam poder desfrutar eternamente, estremece quando um deles, Fausto (Franco Fabrizi), o carismático Don Juan local, engravida Sandra (Leonora Ruffo), uma jovem da cidade. Ele é obrigado pelo pai a casar e, pior, tem de começar a trabalhar – tudo isso sob o riso zombeteiro dos amigos.

Mas Fausto não muda sua maneira de viver e continua agindo de forma irresponsável: acaba demitido da loja em que trabalha ao assediar a mulher do patrão; resolve roubá-lo com o pretexto de que ele não lhe pagara indenização alguma, e envolve-se com outras mulheres, até que recebe uma surra do pai, como se fosse um moleque, em uma das muitas cenas engraçadíssimas do filme.

Fellini aborda com afetuosa cumplicidade essa permanente dificuldade de passar para a vida adulta, mas não deixa de endereçar um olhar crítico, cheio de ironia. Outro integrante do grupo, o pusilânime Alberto (Alberto Sordi), não hesita em pedir dinheiro emprestado à irmã, que sustenta a casa, mas quando esta se vai com um homem, ele chora nos braços da mãe, jurando jamais partir.

O intelectual da turma, Leopoldo (Leopoldo Trieste), vive com as tias, escreve peças de teatro que nunca são encenadas e paquera a empregada doméstica do vizinho. Quando consegue mostrar uma de suas peças para um conhecido ator, foge assombrado ao perceber que este é homossexual e que o interesse por sua comédia encobria outras motivações.

Riccardo (Riccardo Fellini, irmão do diretor) é o personagem menos desenvolvido do grupo. Bonachão, gosta de divertir os amigos cantando e está em todas as farras.

Moraldo (Franco Interlenghi), irmão de Sandra, é o mais jovem dos cinco. Sério e sombrio, ele é o oposto de Fausto: é o único que se recusa a continuar vivendo no vazio.

Resolve agir e abandona a cidade enquanto todos dormem. É o personagem em crise do filme – como acontece em cada obra de Fellini – e o mais identificado com o olhar do diretor.

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