Com Saddam Hussein fora do poder no Iraque, algumas das atrocidades perpetradas pelo ditador começam a ser tema de filmes realizados na região. O iraniano Bahman Ghobadi fala dos refugiados curdos em Tartarugas Podem Voar, filme que estréia hoje no Cine Luz. Outra produção que retrata o povo perseguido pelo ex-ditador iraquiano é Canções da Terra da Minha Mãe – Exílio no Iraque, que teve várias semanas de sessões de pré-estréia na capital, mas ainda não será lançado nos cinemas locais.

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O roteiro elaborado por Ghobadi se passa nos momentos que antecedem a invasão americana do Iraque. A história é centrada em crianças órfãs curdas, cujos pais foram assassinados pelo regime de Saddam. Elas vivem de recolher e vender minas explosivas no mercado negro – as mesmas armas depois são repassadas para o exército das Nações Unidas.

O protagonista é o esperto Satélite (Soran Ebrahi, ator não-profissional, como todo o elenco), menino de 13 anos que lidera os jovens companheiros na perigosa tarefa que acaba por deixar boa parte deles mutilados. O garoto também é atração da aldeia de refugiados, pois instala antenas parabólicas para os chefes que aguardam com ansiedade que os EUA "libertem" a região.

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Por arranhar o inglês, Satélite vira tradutor dos jornais televisivos estrangeiros, inventando boa parte das notícias que acompanha na telinha.

Mas esses são apenas pequenos momentos divertidos no filme, pois a aparente descontração de Satélite não esconde a aspereza da complicada situação que todos vivem – exemplificada perfeitamente na história da menina por quem o jovem líder se apaixona.

Órfã, ela chega à aldeia com dois irmãos. Um deles desarma minas mesmo sem ter os dois braços (e talvez tenha poderes de prever o futuro). O outro é pequeno e cego, sendo renegado constantemente pela menina – o motivo, não menos trágico do que tudo no filme, é revelado com o passar da trama.

Ghobadi não alivia nas cores, não tenta fazer poesia da miséria do lugar – mesmo que o título da fita, uma metáfora sobre coisas impossíveis acontecerem, possa indicar essa direção. O diretor entrega uma produção seca e muito triste, mas de muito impacto, revelando algumas das piores características da condição humana. GGGG