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“A loucura, a degradação humana, o horror desse espetáculo”, escreveu Lima Barreto, em seu diário durante a internação | Acervo do IPHAN/Divulgação
“A loucura, a degradação humana, o horror desse espetáculo”, escreveu Lima Barreto, em seu diário durante a internação| Foto: Acervo do IPHAN/Divulgação

Linha do Tempo

Lima Barreto é um dos mais respeitados escritores brasileiros. Ele morreu em 1992, ano da Semana de Arte Moderna, e a sua obra foi endossada e reconhecida pelos modernista. Saiba mais sobre o escritor.

Origens

Filho de João Henriques de Lima Barreto e de Amália Augusta, ambos mulatos filhos de escravos. O pai tornou-se tipógrafo.

Apadrinhado

O padrinho do pequeno Lima Barreto, o Visconde de Ouro Preto, custeou os seus estudos, o que viabilizou uma ampla e sólida formação humanística.

Rumos

Em 1895, entrou no curso da Escola Politécnica, no Rio de Janeiro, mas em 1904 teve de abandonar os estudos para trabalhar e sustentar os irmãos. O pai foi internado, em hospício, diversas vezes. Lima Barreto conseguiu emprego, por concurso, no Ministério da Guerra. Colaborou em diversos jornais para completar o orçamento.

Obras

Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), O Homem Que Sabia Javanês e Outros Contos (1911), Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919).

Lima Barreto (1881-1922) atravessou a existência caminhando so­­bre brasas. Negro, disputou es­­pa­­ço entre uma elite branca, e isso no final do século 19, imediatamente após o fim oficial da escravidão, em um contexto histórico assumidamente racista, que era o Rio de Ja­­neiro, então capital do país.

O escritor foi um outsider. Dono de uma cultura refinada e de um texto excelente, que o credenciaram a publicar e a colaborar em diversos jornais, não conseguia o reconhecimento, nem social, muito menos financeiro, os quais ele tanto ambicionou.

Autor de alguns dos romances mais elogiados pela crítica, como Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909) e Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), Barreto tinha problemas com o álcool.

Entre o Natal de 1919 e fevereiro de 1920, ele permaneceu in­­ternado no Hospício Nacional dos Alienados, no Rio de Janeiro, e o resultado dessa experiência está registrado em Diário do Hospício, um relato a respeito da segregação, que acaba de chegar ao mercado em uma luxuosa edição da Cosac Naify.

O livro, de 352 páginas, traz também O Cemitério dos Vivos, um romance inacabado, em diálogo com Diário do Hospício.

Mas é no texto testemunhal que Barreto atinge a excelência enquanto narrador do problema da perda da sanidade. O escritor reconhece no Diário que enfrenta uma situação aparentemente sem solução, que o debilita e, mesmo depois de re­­ceber alta, opta por permanecer internado.

O motivo?

É que na casa de sua família não havia condição de ele se recuperar, e o escritor ainda admite que, nas ruas, poderia voltar a se embriagar e, uma vez bêbado, não seria mais senhor de seus atos.

Barreto é perspicaz ao comentar o comportamento de outros colegas, uns mais agressivos, ou­­tros aparentemente dóceis, mas todos sujeitos a atos tresloucados, como subir em um telhado e arremessar telhas ou sair em disparada gritando pelos corredores do hospício.

"O que dizer da loucura? Mergulhado no meio de quase duas dezenas de loucos, não se tem absolutamente uma impressão geral dela. Há, como em todas as manifestações da natureza, indivíduos, casos particulares, mas não há ou não se percebe entre eles uma relação de parentesco muito forte. Não há espécies, ou raças de loucos; há loucos só", escreveu Barreto, neste diário que é um dos depoimentos mais genuínos e bem-escritos produzidos por um escritor brasileiro. GGGG

Serviço:

Diário do Hospício e O Cemitério dos Vivos, de Lima Barreto. Cosac Naify, 352 págs., R$ 55.

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