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Ivam, Laerte e Silvia vivem com movimentos lentos e poucas palavras a tragédia de Pátroclo | Bob Sousa / Divulgação
Ivam, Laerte e Silvia vivem com movimentos lentos e poucas palavras a tragédia de Pátroclo| Foto: Bob Sousa / Divulgação

GUIA GAZETA DO POVO

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Se você desistir de ler este texto nas próximas linhas e for assistir a O Último Stand-Up (confira o serviço completo do espetáculo), estreia nacional dos Satyros no Festival de Curitiba, hoje, às 21 horas, provavelmente terá uma leitura muito diferente da formada pelos bravos leitores que forem até o fim. Isso porque a história – um grupo de sem-teto à beira de ser despejado de um prédio invadido, em meio a uma en­­chente mortífera em São Paulo – foi transformada em movimentos abstratos, com poucas falas e muita poesia. "A apreensão do espetáculo não deve ser feita pela razão, e sim pela via da intuição", diz o diretor Fabio Mazzoni.

Em mais um trabalho ousado, o grupo "espremeu" o texto do paranaense Ivam Cabral, escrito com base no poema "Pátroclo ou o Destino", de Marguerite Yourcenar, até deixar sobrar apenas um substrato poético, nas palavras de Mazzoni.

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O resultado pode ser classificado como teatro-dança, de linguagem nada realista. Uma primeira parte é cômica – afinal, o ganha-pão dos três personagens vem da apresentação de stand-ups no Viaduto do Chá.

Na segunda parte, a tragédia se escancara, com uma estética que remete ao fim do mundo: São Paulo alagada, com um milhão de mortos e o homem em guerra contra a natureza. Tudo isso em 50 minutos. A curta duração pode enganar: "Não é um espetáculo fácil, que todo mundo vai assistir e está tudo certo", avisa Ivam.

Personagens

O trio representa o tripé do mito que compõe a Ilíada, de Homero, e se passa durante a Guerra de Tróia. Pátroclo (Laerte Késsimos), Aquiles (Ivam Cabral) e Pentesileia (Silvia Wolff) ganham roupagens que misturam o urbano ao circense, e vivem ali no cimento sua tragédia.

"Queremos mostrar que o mito pode fazer parte do dia a dia", conta Ivam. A poucos metros de sua casa, na capital paulista, ele contou três invasões de sem-teto em prédios abandonados. "Eles entram e saem, em alguns casos têm uma vida como a do meu condomínio", contou Ivam, que falou à imprensa ontem no Memorial de Curitiba, ao lado dos demais integrantes do espetáculo.

Para ele, o mérito todo do trabalho é da escritora belga Marguerite Yourcenar, que possivelmente ambienta o mito de Pátroclo na Primeira Guerra Mundial. A transposição para uma metrópole no século 21 se deu em trabalho conjunto de Ivam e Fabio, que eram ambos secretamente apaixonados pelo texto. "Acho milagroso ainda não termos tido tragédia de proporções muito maiores em São Paulo", diz Ivam.

Superação

A obra marca também o retorno da bailarina Silvia Wolff aos palcos brasileiros após ter sofrido um acidente vascular cerebral há quatro anos. "Eu vinha de uma história de dança muito verborrágica, porque o balé clássico trabalha com muito movimento, e tive que abstrair tudo aquilo e descobrir qual era o movimento mais simples para dizer com o corpo o que precisava ser dito", disse Silvia.

A direção de movimentos foi feita por Sandro Borelli, num ritmo lento que contribui, junto com a direção musical de Carlinhos Mazzoni e os figurinos de Telumi Helen, para o clima de apreensão.

O texto foi sendo eliminado à medida que "não cabia mais nas nossas bocas", diz Ivam. No lugar de palavras, os personagens realizam ações do cotidiano, como ter uma última refeição juntos.

"Achei generoso por parte do Ivam topar ver o texto ruir enquanto a obra se transformava em movimento", completa o diretor Fabio Mazzoni.

Com esta estreia, Os Satyros se aproximam de Cosmogonia, espetáculo que estreou em 2005 com referências ao teatro grego.

Serviço:

O Último Stand-Up (confira o serviço completo do espetáculo). Teatro Paiol (Lgo Guido Viaro, s/nº), (41) 3213-1340. Drama. Direção: Fabio Mazzoni. Com Os Satyros. Dias 30 e 31, às 21 horas. R$ 50 e R$ 25 (meia).

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