A piada perdeu a graça. Contrariando as pesquisas, o bilionário e ex-astro de programas de reality shows Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos.
Não é possível dizer, no entanto, que os americanos, republicanos e democratas, não foram avisados. Os Simpsons, no longínquo ano 2000, em um de seus episódios mais famosos, alertaram para uma possível presidência Trump. O filme Idiocracia, de Mike Judge, criador de Beavis e Butt Head, apesar de tratar de um futuro distante 500 anos, fala de uma nação idiotizada na qual o presidente é um ignorante astro de TV. A ficção científica “Interface”, de Neal Stephenson, pouco conhecido no Brasil, também fala de um candidato com um chip no cérebro conectado às pesquisas de opinião pública — ele só diz o que o povo quer ouvir.
Estamos olhando para um potencial mandato de Biff Tannen
Ted Cruz saiu da disputa pela indicação do partido Republicano falando de outro clássico da ficção científica: “De Volta Para o Futuro 2”. Ele comparou Trump ao personagem Biff Tannen, que fica rico após voltar ao passado e dar a si mesmo um livro com os resultados de todos os eventos esportivos, de 1955 até o ano 2000.
“Os Simpsons”
No episódio levado ao ar no dia 19 de março de 2000 chamado “Bart to the Future”, um trocadilho em inglês com “Back to the Future” (De Volta Para o Futuro), Bart vê seu futuro, no qual permanece sendo um zero à esquerda. Lisa, sempre estudiosa, aparece como presidente dos Estados Unidos. Em uma de suas falas, ela reclama da bagunça deixada por seu antecessor. “Como vocês sabem, herdamos um buraco no orçamento do presidente Trump”, diz ela à sua equipe.
Dan Greaney, o roteirista daquele episódio, disse este ano ao Hollywood Reporter que ele imaginou Trump como presidente porque “parecia o passo mais lógico antes de atingir o fundo do poço, de uma América cada vez mais insana.”
“Idiocracia”
Mike Judge captou a crescente estupidez de uma juventude sem perspectivas com Beavis e Butt Head. No filme “Como Enlouquecer Seu Chefe”, revelou a falta de sentido do cotidiano das grandes corporações. Em Idiocracia, que se passa em um futuro distante 500 anos, previu com apuro o ânimo das atuais eleições americanas. No filme, o presidente é um ex-astro de Luta Livre ignorante, rude, obcecado por mulheres siliconadas e pela própria imagem. Qualquer semelhança com Trump — ex-astro de reality show, casado com loiras siliconadas, cruel com os adversário — não é coincidência.
A população também não é poupada. No futuro só sobraram as pessoas com menor QI, que se reproduziam como coelhos, enquanto as pessoas com maior inteligência optaram no passado por se dedicar a outras coisas. São viciadas em televisão, sexo e celebridades. Qualquer semelhança, novamente, não é coincidência.
“Interface”
No livro de Neal Stephenson, um cartel de milionários implanta um chip na cabeça de um candidato para controlar suas ações. Eles exploram justamente tudo o que Trump vem explorando nestas eleições. A xenofobia de parte da população americana, o medo dos terroristas, o fascínio pelo autoritarismo, o conservadorismo.
“De Volta para o Futuro 2”
Biff Tannen se torna bilionário ao voltar para o passado e entregar para o seu “eu jovem” um livro com os resultados esportivos do século 20. Ele se torna, então, uma espécie de Donald Trump. Nas palavras do senador Ted Cruz. Ele se torna uma “caricatura de um bufão arrogante que constrói cassinos gigantes com quadros gigantes de si mesmo para todo lugar onde se olhe. Estamos olhando para um potencial mandato de Biff Tannen.” Marty McFly, é hora de voltar para o futuro!