Nicholas Sparks é bom para descrever ações e as suas narrativas funcionam quando alguém está fazendo algum movimento subindo uma escada, fechando uma janela, abrindo um vinho... E ele tem um talento jornalístico para descrever lugares. "Rodanthe era exatamente o que parecia ser: uma velha vila de pescadores à beira-mar, um lugar onde a vida moderna havia penetrado com muita lentidão" e segue uma longa lista de características da cidadezinha onde se passa Noites de Tormenta, "novo" romance do autor de Querido John e A Última Música.
"Novo", entre aspas, porque o livro saiu em 2002 no mercado americano e virou um filme regular em 2008, com Richard Gere e Diane Lane nos papéis de Paul e Adrienne. Aliás, uma das peculiaridades de se ler um livro já adaptado ao cinema ao menos para este resenhista é a dificuldade de pensar nos personagens sem associá-los aos atores do filme.
Mesmo que você não o tenha visto, as editoras tendem a usar fotos dos atores para ilustrar as capas algo que a Novo Conceito fez com os três livros de Sparks que publicou até o momento. Material, não falta. Dos 16 romances que produziu, nove foram adaptados ao cinema.
Por um daqueles mistérios difíceis de explicar uma equação complicada que envolve variantes demais , o escritor americano que vive no estado da Carolina do Norte se tornou um best seller no Brasil só agora. Antes, a editora Objetiva havia lançado O Caderno de Noah (1997) e Uma Carta de Amor (1999), enquanto a Prestígio publicou O Milagre (2006).
Mas nenhum deles chegou perto dos 300 mil exemplares que a Novo Conceito vendeu com Querido John e mais A Última Música. Com viagem marcada para o Brasil em dezembro, o escritor virou uma mina, tudo o que vem dele é valioso. O plano da editora é tirar do forno quatro novos títulos de Sparks por ano um livro a cada três meses.
Embora seja um contador de histórias eficiente, Sparks tem um ponto fraco nos diálogos. É quando seus personagens abrem a boca que a leitura enrosca. As falas são telegráficas e, na maioria das vezes, é possível prever o que será dito.
Noites de Tormenta tem um alvo claro: as românticas (ou românticos). Pense na sinopse: um homem e uma mulher, ambos divorciados, sozinhos e na meia-idade, se conhecem numa pousada deserta de que ela está cuidando para ajudar uma amiga. Ele é um cirurgião plástico em crise, cansado da vida de aparências, larga tudo para tentar descobrir quem é e almeja reatar com o filho que mal conhece.
O casal maduro deve então superar os traumas e feridas do passado para tentar se conhecer e se aproximar. É uma relação com dificuldades evidentes. Adrienne tem três filhos adolescentes para criar e um pai doente que precisa da sua ajuda, enquanto Paul está de viagem marcada para o Equador, onde mora o filho (também médico). Seu plano é passar um ano na América do Sul.
No entanto, o leitor não deve se preocupar. No mundo de Nicholas Sparks, não há espaço para complicações. As coisas precisam ser muito bem resolvidas causando a dor que tiver que causar. Não por acaso, a história é narrada em flashback, com Adrienne contando para a filha sobre suas noites em Rodanthe, no litoral da Carolina do Norte (Nights in Rodanthe é o título original da obra). Um formato que faz lembrar Pontes de Madison (1993), o romance de Robert James Waller que virou filme de Clint Eastwood, em que os filhos encontram cartas da mãe revelando a paixão que experimentou por um fotógrafo. GG
Serviço: Noites de Tormenta, de Nicholas Sparks. Novo Conceito, 176 págs., R$ 32,90.
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano