Três poetas em um. O escritor português Fernando Pessoa inventou três personagens para expressar formas diversas de escrever e interpretar o mundo: os poetas Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro.
O ator Lori Santos foi buscar explicações do próprio autor sobre a existência de seus heterônimos os famosos "eus" de Fernando Pessoa para a criação da peça-recital A Pequena Humanidade de um Fernando Pessoa, que estréia hoje à noite na Oficina do Ator Cômico.
A partir de esboço de carta que o autor escreveu ao amigo Casais Monteiro, Santos construiu seu roteiro de pequenas amostras da poesia e da personalidade de cada heterônimo. A primeira parte do espetáculo é a peça, propriamente dita, em que o ator, bem próximo do público, conta a origem do fenômeno da heteronímia e põe em cena pequenos monólogos que recriam prosas atribuídas a Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
A segunda parte é o recital, em que Santos canta ao microfone alguns poemas do trio fictício, com acompanhamento musical de Edith de Camargo. "Canta" é modo de dizer. "Eles são cantados no sentido de que todo o poema tem ritmo, e por isso, só pode ser cantado", diz o ator, recordando-se da frase de Álvaro de Campos que diz que "poesia é a prosa cantada".
A peça é um dos inúmeros monólogos portáteis de Lori Santos. Sem cenário nem elenco (além dele, é claro), o ator pode levá-la na bagagem. "É uma forma que encontrei de fazer circular meus espetáculos em lugares onde as pessoas geralmente não vêem teatro, fugir do eixo Rio-São Paulo", diz. No mês passado, ele pré-estreou a peça em Pato Branco, interior do estado.
A montagem nasceu de uma parceria com Otávio Camargo, professor de música da Belas Artes e diretor teatral. "É uma espécia de jam, ele toca a música e eu toco a poesia", diz Santos. O diretor já o havia dirigido em outro monólogo: o "Canto III", da Ilíada, de Homero.
O trabalho vale um parêntesis. Camargo já encenou quatro dos 20 contos do grande poema épico. O primeiro já está de viagem marcada para sua terra de origem. No dia 18 de maio, a paranaense Claudete Pereira Jorge embarca para Tessalônica, na Grécia, onde vai apresentar o monólogo na abertura da 1.ª Bienal de Arte Contemporânea da Cidade.
No solo de Lori Santos, Edith de Camargo substitui o músico, que está na Alemanha, com proposta própria. "Ela optou por uma trilha medieval, de autores anônimos. Foi uma nova experiência, em que descobri lugares que ainda não tinha visitado nos poemas", diz o ator.
Serviço: A Pequena Humanidade de Um Fernando Pessoa. Oficina do Ator Cômico (R. Lamenha Lins, 1429), (41) 3332-4361. 5.ª a sáb. às 21h. R$15 e R$7 (meia). Até 12 de maio.
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