Quem ganhará o Oscar de melhor filme em língua estrangeira este ano? É quase impossível responder. O modo como a Academia vota - para escolher os indicados, os eleitores precisam assistir a uma cota determinada de filmes - faz com que os candidatos sejam escolhidos por um grupo de eleitores mais velhos, que seleciona entre um pool de filmes, em que cada país só pode apresentar um candidato.
A Academia procurou equilibrar a preferência desse grupo pelo cinema mais convencional, encarregando um comitê especial de escolher até três filmes adicionais. Assim, de uma lista de nove semifinalistas serão escolhidos os cinco indicados finais. Mas isso ainda deixa um processo que costuma discordar dos críticos e festivais de cinema.
Isso ficou muito claro no ano passado, quando o japonês "A Partida", praticamente ignorado pela crítica e pelo circuito de festivais, derrotou os favoritos "Entre os Muros da Escola" (França) e "Valsa com Bashir" (Israel).
Este ano a disputa ficou mais complicada pelo fato de vários filmes vistos como favoritos serem eliminados por não terem sido escolhidos pelos países onde foram produzidos.
O drama chileno "A Criada", de Sebastian Silva, por exemplo, vencedor de Sundance e indicado ao Globo de Ouro, não consta da lista de 65 pré-candidatos ao Oscar. Em vez disso, o Chile optou por candidatar "Dawson Isla 10", de Miguel Littin, um filme político de época, cuja história acontece após o golpe de 1973 que levou o ditador Augusto Pinochet ao poder.
"Horas de Verão", de Oliver Assayas, já recebeu vários prêmios, incluindo das associações de críticos de Nova York, Boston e Los Angeles, mas a França o excluiu da disputa para favorecer o drama prisional de Jacques Audiard "Un Prophète".
E a Espanha mais uma vez esnobou Pedro Almodóvar, cujo "Abraços Partidos" é um dos favoritos ao Globo de Ouro, mas não constará entre os finalistas para o Oscar, pelo menos não na categoria filmes em língua estrangeira (ainda pode ser indicado em outras categorias, incluindo melhor filme, porque foi lançado comercialmente nos EUA em 2009). A Espanha prefere apostar em "El Baile de la Victoria", drama do diretor Fernando Trueba ("Sedução").
Outros longas estrangeiros premiados cujos vistos não levarão o carimbo "Oscar" este ano incluem o épico de ação "Red Cliff", de John Woo (China); o sangrento drama de vampiros "Sede de Sangue", do diretor Chan-wook Park (Coreia do Sul), o drama imigrante "Sin Nombre", de Cary Fukunaga (Honduras) e "Coco Antes de Chanel", de Anne Fontaine.
Entre os candidatos que estão na disputa, "A Fita Branca", de Michael Haneke (candidato pela Alemanha, apesar do passaporte austríaco do diretor), e "Un Prophète", da França, são vistos como favoritos. Ambos foram vencedores em Cannes, onde "Fita" levou a Palma de Ouro, e "Prophète", o Grande Prêmio do Júri, além do European Film Awards. Os dois filmes também foram indicados ao Globo de Ouro, onde, segundo o site de apostas Bookies.com, "A Fita Branca" é visto como favorito.
Mas os eleitores do Oscar são uma raça à parte, e os dois filmes terão dificuldade junto a eles.
"A Academia tem seus gostos próprios, que não são os mesmos de outros críticos e júris de festivais", disse Christian Dorch, presidente da German Films, que todos os anos forma um júri para escolher o candidato alemão ao Oscar.
"'Corra, Lola, Corra' foi escolhido por unanimidade pelo júri alemão, mas não foi indicado ao Oscar, apesar de virar sucesso de bilheteria nos EUA. A mesma coisa aconteceu com 'Adeus Lênin!', que foi indicado ao Globo de Ouro mas ficou de fora da disputa pelo Oscar", acrescentou.
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