• Carregando...
Valena se descreve como “um filipino pequeno e baixinho”: tem os braços e pernas cheios de tatuagens. As mãos, além de cheias de símbolos e desenhos, também têm o peso de vários anéis de ouro grandes de Gucci e Versace | Ben Sklar/NYT
Valena se descreve como “um filipino pequeno e baixinho”: tem os braços e pernas cheios de tatuagens. As mãos, além de cheias de símbolos e desenhos, também têm o peso de vários anéis de ouro grandes de Gucci e Versace| Foto: Ben Sklar/NYT

Pelos seus cálculos, Jonathan Valena, que atende pelo nome de JonBoy, já fez mais de 20 mil souvenires permanentes, mas o que mudou a sua vida para sempre foi realizado em 16 de junho de 2015. Nesse dia, o tatuador colocou um ponto branco no dedo médio de uma garota, o que demorou pouco mais de um segundo.

“Foi o ponto branco que arrebentou com a boca do balão. O telefone começou a tocar e não parou mais. Foi uma verdadeira benção”, contou o artista de 36 anos em entrevista recente.

Valena chegou a achar que teria que escolher entre seu amor pelas tatuagens e o que sentia por Deus, mas, nesse caso, sua sorte talvez tenha mais a ver com outra força poderosa do universo: a família Kardashian-Jenner. O dedo que tatuou pertencia a Kendall, modelo e irmã caçula de Kim Kardashian.

Uma postagem no Instagram depois, ele se viu sendo considerado o “tatuador mais descolado” da vez, um tipo de Dr. Woo da Coste Leste, um Sailor Jerry para a juventude de Hollywood e a turma da moda.

“Eu me sinto um homem de sorte. Tem muita gente por aí que faz a mesma coisa, até melhor que eu. Acontece que eu tatuei alguns famosos”

No ano que passou, colocou uma cruz minúscula perto do olho esquerdo de Justin Bieber, as letras PR e AY nas mãos da modelo Hailey Baldwin e “Janette Duke” na pele sob as costelas da atriz Chloë Grace Moretz, que queria homenagear a avó.

Sua marca registrada é a tatuagem de agulha única e linhas finas, ou o que seus fãs chamam simplesmente de “micro tatoos”: corações, flores e perfis de cidades em tinta preta reduzidos ao tamanho de um emoji; os nomes de gente querida e mantras inspirativos em sua caligrafia diminuta e redonda.

Queridinho das estrelas

Valena cresceu na periferia de Chicago Ben Sklar/NYT

Muitos tatuadores não gostam de fazer trabalhos pequenos porque são de difícil execução e acabam desbotando, mas Valena, percebendo o potencial de mercado, fez deles sua especialidade. É o queridinho das modelos e atrizes que apreciam a delicadeza e quase invisibilidade de suas obras.

Como todos os bem-sucedidos recentes em Manhattan, o nome de Valena está nas listas de convidados de todo mundo: lá estava ele com Coco Rocha e The Misshapes em uma festa, comemorando a parceria de Jeremy Scott com o Google na realização de seu smartphone Pixel.

E grifes como Schott NYC e Coach o contrataram para tatuar em eventos em suas lojas e em campanhas nas redes sociais. Há questão de semanas, levou suas agulhas e tintas para Los Angeles e a Coreia do Sul.

“Eu me sinto um homem de sorte. Tem muita gente por aí que faz a mesma coisa, até melhor que eu. Acontece que eu tatuei alguns famosos”, resume.

Apesar disso e de tudo o que conquistou, Valena revela que, às vezes, tem dificuldade para equilibrar as escolhas de vida e profissionais. Tatuador das estrelas não era bem seu plano original; ele queria mesmo era ser religioso.

“Sinto meio que culpa porque, a princípio, o que eu queria mesmo era ser pastor de jovens. Eu me afastei da igreja e luto contra isso o tempo todo. É como se toda hora eu me questionasse: ‘Cara, onde é que você veio parar?’.”

“Deus salvou minha alma torturada”

Há pouco tempo, eu o encontrei em seu local de trabalho: a West 4 Tattoo, no Greenwich Village, onde fica seu QG. Ali, a música eletrônica alta recebe os clientes que aguardam na recepção. O local é parecido com milhares de outros salões, a não ser pelas paredes recobertas de fotos de Valena com seus clientes famosos, uma colagem feita a partir do conteúdo de sua conta no Instagram.

Valena, que se descreve como “um filipino pequeno e baixinho”, se sentou com as pernas cruzadas. Usava short e camiseta pretos, revelando os braços e pernas cheios de tatuagens, e um boné que o deixava um tantinho mais alto. As mãos, além de cheias de símbolos e desenhos, também têm o peso de vários anéis de ouro grandes de Gucci e Versace.

Tem um spitz alemão peludo chamado Gucci, que cria ao lado da namorada e empresária, Lauren Ledford, latindo a seus pés.

“Sempre adorei moda e agora não só vivo em Nova York como faço parte dela. É um sonho”, exclama.

Em uma pausa entre os compromissos, Valena analisa com seriedade a jornada de sua vida. Havia um aspecto meio “Deus salvou minha alma torturada” em sua história, uma ênfase nos momentos de redenção.

Overdose

O primeiro veio quando Valena, que cresceu na periferia de Chicago de pais divorciados, disse que quase morreu de overdose, aos 17 anos. Depois disso, converteu-se ao cristianismo e se matriculou em um instituto bíblico em Rhode Island. Dois anos depois, viu-se trabalhando como pastor de jovens e barista do café que havia na igreja de Decorah, Iowa, cuja população não passava de oito mil habitantes.

“Era uma cidadezinha universitária; até tinha bastante coisa para fazer, mas acabou envelhecendo”, explica.

Ele já tinha algumas tatuagens e se interessava pela forma de arte. Começou a passar mais tempo em um salão local, o Valhalla Tattoo & Piercing, que era de um motoqueiro irlandês – com direito a “mullet” e ficha policial corrida – que foi quem lhe ensinou as manhas do negócio.

“É, tive que começar fazendo desenhos de fruta, mas a sensação que você tem ao segurar aquele equipamento vibrante na mão, sabendo que está fazendo um negócio permanente na pele de outra pessoa, é indescritível. Foi aí que tudo começou.”

Alguns líderes da igreja acharam que ele estava fazendo o trabalho do diabo. Valena foi pressionado a desistir do ofício – mas, em vez disso, desistiu da igreja e passou a aperfeiçoar sua técnica em encontros de motoqueiros realizados no Meio-Oeste.

Briga no metrô

E em rápida sequência, foi para o Wisconsin atrás de uma garota, de lá para Mineápolis, casou, teve um filho, tornou-se um tatuador local bem-sucedido, foi ficando cada vez mais inquieto, teve um caso, divorciou-se e, com a jovem amante, seguiu o impulso de se mudar para Nova York, onde teve dificuldade em se adaptar e se tornou “o JonBoy inseguro que raramente tatuava porque não tinha clientes ainda”.

“A sensação que você tem ao segurar aquele equipamento vibrante na mão, sabendo que está fazendo um negócio permanente na pele de outra pessoa, é indescritível. Foi aí que tudo começou.”

Depois de uma briga no metrô com o sujeito que ameaçava lhe roubar a mulher, Valena foi detido e preso, o que o deixou deprimido e com um humor sombrio. “Comecei a achar que tinha fracassado em tudo. Destruí meu casamento, decepcionei a família, estava acabando com a outra relação, não conseguia nada em Nova York, não conseguira ser pastor. Estava totalmente perdido.”

Depois de ser solto, lembra de alguém lhe ter dito algo sobre a Hillsong Church, uma megaigreja mundial muito popular entre celebridades como Bieber. E foi ali que sua vida mudou, como ele mesmo diz. Passou a tatuar a liderança hipster da comunidade, que aprovava o trabalho. E conheceu Hailey Baldwin, filha do ator Stephen Baldwin com uma das fiéis – que pediu uma tatuagem a Valena e o recomendou a Kendall Jenner.

Autógrafo na pele

Há alguns anos, Valena estava tão desesperado atrás de trabalho que aceitou ser tatuador em uma boate do Meatpacking District, cercado o tempo todo por gente bêbada e inoportuna; hoje ele faz o próprio horário, chega a atender oito clientes por dia e cobra, no mínimo, US$300/hora.

No reino das Kardashian, Valena é o escriba oficial: tatuou Kendall Jenner de novo (a palavra “meow” na parte interna do lábio), assim como a irmã mais nova, Kylie Jenner, várias vezes (a última foi um “M” vermelho minúsculo no mindinho) e um amigo da família, Jonathan Cheban (”Foodgod” no antebraço).

“Você tem um caminho a percorrer, uma jornada só sua, que vai levá-lo aonde você deve ir.”

E estreitou sua relação com as celebridades, pedindo a várias que o tatuassem, o que comparou a “autógrafos”. “Mas não daquele jeito maluco que certos fãs fazem.”

Valena estendeu os braços, mostrando o local onde Kylie Jenner tinha feito um “K” pequenino e Ireland Baldwin, um “L.A.” meio tremido.

“Nunca imaginei nada assim. Nem sonhava que, ao colocar um pontinho branco no dedo de Kendall Jenner, tudo isso fosse acontecer. Estou realizando um sonho.”

E o plano que tinha de ser pastor de jovens? Ainda sente a alma dividida?

Ele responde, com a voz serena: “Você tem um caminho a percorrer, uma jornada só sua, que vai levá-lo aonde você deve ir.”

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]