| Foto: Bruno Tetto/Divulgação

O conto "A Senhorita Julia", de Strindberg não caberia melhor à Suécia do século 19 quanto ao Brasil de hoje. A opção por adaptar a história de uma adolescente rica que se apaixona pelo chofer da família evidenciou na peça "Julia" a atemporalidade que um clássico, por definição, guarda em si.

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A ousadia da fusão entre cinema e teatro foi acompanhada diligentemente pelo público, hipnotizado pela orquestração de painéis, filmes e atuação ao vivo que por vezes rompia com as barreiras entre as camadas de encenação. A esse movimento, a trama e os dois únicos personagens da peça correspondem, ao alternarem entre si submissão e dominação, prudência e imprudência, calma e desespero.

A princípio, a paixão da menina Julia não parece muito mais do que o jogo de sedução de uma menina poderosa e bonita com um dos empregados da família, mas logo o chofer sem nome toma as rédeas da situação e propõe uma solução descabida, que beira o absurdo como tudo na peça, para livrar os dois da fúria de seu patrão, pai de Julia. Enquanto pensa em fugir com a garota e abrir um hotel em alguma cidade litorânea, a menina, romântica, pensa em suicídio conjunto.

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A presença constante e desconfortável do câmera, que filmava tudo impassivelmente e projetava na mesma hora nos painéis móveis, dava à peça um ar de improvisação e imprevisibilidade, até que uma suposta tomada de consciência termina por confundir o público, que já não sabe se ainda assiste a uma peça ou a um desabafo da atriz.

No final das contas, Julia é uma peça ousada que merecia muito mais audiência do que teve, com várias cadeiras vazias no Teatro Bom Jesus. Mesmo assim, não passará em branco pela história do Festival de Teatro de Curitiba.