Liam Neeson ingressou relativamente tarde no gênero que costuma dar popularidade a atores bem mais limitados dramaturgicamente do que ele. Após o sucesso de Busca Implacável (2008), Neeson vem repetindo um personagem recorrente: o tipo casca-grossa dono de habilidades especiais e atormentado por traumas passados, os quais amortece na solidão e na birita.
Em Noite sem Fim, filme em cartaz nos cinemas a partir de hoje, Neeson, 62 anos, reúne esses atributos em Jimmy Conlon, matador da máfia irlandesa de Nova York. Seu trauma é a rejeição do filho que abandonou quando criança para cumprir seu ofício e ganhar a fama ruim que tem.
Mike, o filho (vivido por Joel Kinnaman, o RoboCop da refilmagem de José Padilha), cresceu longe do crime e dirige limusine para sustentar a mulher e duas meninas pequenas. Mas o rapaz será sugado involuntariamente pela espiral de violência patrocinada por Shawn Maguire (Ed Harris), o chefão para quem o pai trabalha.
Jimmy escolhe um lado: proteger Mike e sua família, o que faz ambos serem caçados por gângsteres e policiais corruptos, na tradicional gincana que deixa como rastro uma fileira de destruição e corpos.
Neeson repete em Noite sem Fim a parceria com o diretor espanhol Jaume Collet-Serra, com quem fez o thriller Sem Escalas (2014). Nesse reencontro, porém, não há muito espaço para suspense e surpresas, já que o roteiro segue pelo rumo previsível. O bom elenco, as faíscas resultantes tanto da reaproximação forçada entre pai e filho quanto do rompimento do matador com seu capo fazem de Noite sem Fim um passatempo com mais estofo do que, por exemplo, as duas fracas continuações de Busca Implacável. Se nessas Neeson ligou o piloto automático, aqui, e em produções como o recente Caçada Mortal (2014), ele consegue, entre tiros e socos, mostrar o bom ator que é.