Nada de cocar e vestimentas mínimas, nem de chapéus e botas pesadas. Os mesmos cenários e figurinos brancos servem para índios e portugueses. Sobre esta ausência de cor, vão sendo impressas luzes, cores e sons, conforme o desenrolar da narrativa. É a partir desta desconstrução de estereótipos que Caminha, do diretor Caike Luna, trata do encontro entre os primeiros habitantes brasileiros e os portugueses. A peça estréia amanhã, às 21 horas, no Espaço Teatro Regina Vogue.
A carta que o escrivão Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal relatando, com riqueza de detalhes, as descobertas dos navegadores em uma terra até então misteriosa, é o ponto de partida que leva o espectador a refletir sobre a formação cultural do país. Mas, isto não é feito de forma a induzi-lo a tomar partido. Índios e portugueses são mostrados como seres humanos, com defeitos, qualidades e contradições.
Para evitar qualquer possibilidade de oferecer um discurso pronto "que enche o espectador", nas palavras de Luna , uma das táticas da montagem é fazer com que os atores revezem-se em diversas interpretações. Assim, um mesmo ator pode ser Pedro Álvares Cabral e, logo em seguida, transformar-se em índio. "Gente é gente em qualquer lugar. A intenção é retratar o brasileiro como ele é, após este encontro entre duas civilizações", explica Luna.
Ninguém é totalmente bom ou mau. "Os portugueses acharam que os índios eram bonzinhos e se surpreenderam", diz o diretor. E vice-versa. Caminha dosa drama e um humor bem "à brasileira" para mostrar que, muitas vezes, não admitimos nosso lado português, "colonizador", e nos fazemos de vítimas frente a imposições de outras culturas, como a norte-americana (para citar uma referência atual).
Essas referências ao mundo de hoje não aparecem explicitamente na peça, mas são jogadas aqui e ali (em uma festa, por exemplo, índios dançam ao som de uma música contemporânea norte-americana). "As pessoas que entendam ou não", brinca Luna. Ele conta que pretendeu, antes de tudo, criar releituras bem-humoradas da primeira fase da história brasileira. "Queremos criar sensações no público, para que ele tente imaginar como se deram algumas situações como o desembarque dos portugueses, a primeira missa, entre outras", explica.
Serviço: Caminha. Espaço Teatro Regina Vogue (Av. Sete de Setembro, 2.775, Shopping Estação), (41) 2101-8292. Direção de Caike Luna. Com Caike Luna, Patrícia Saravy, Andy Gercker, Fabiano Amorim e Luis Berttazzo. Estréia amanhã, às 21 horas. R$ 14 e R$ 7 (meia). Até 19 de novembro.
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