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Montagem de Edson Bueno é vigorosa em sua execução | Divulgação
Montagem de Edson Bueno é vigorosa em sua execução| Foto: Divulgação

Palavra de Mulher

Teatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655 – São Francisco, (41) 3223-4457. 5ª a dom. às 20 h. R$ 26 e R$ 13. Classificação indicativa: livre. Até 26 de outubro.

"Não se nasce mulher, torna-se mulher", dizia Simone de Beauvoir, uma das pensadoras fundamentais ao entendimento do feminismo e da condição da mulher na história e na contemporaneidade – e se você acha que a discussão é irrelevante, basta a constatação de que nunca foi preciso um livro para discutir a condição do homem na sociedade, ou seja, as coisas não são, nunca foram, igualitárias. E, como bem lembra a francesa, em O Segundo Sexo, o homem representa o positivo e o neutro, a ponto de dizermos "os homens" para designar os seres humanos.

E é esta matriz ideológica de desejos, receios, medos e estereótipos que se enleva em Palavra de Mulher, em cartaz no Teatro José Maria dos Santos até 26 de outubro. Grosso modo, é como se Simone de Beauvoir se multiplicasse por três e tivesse uma banda de rock. A trama se desenvolve em torno de um trio de cantoras que ambiciona montar um repertório voltado ao seu universo – todas as canções do espetáculo foram compostas pela cantora Mônica Bezerra, vocalista do Nega Fulô, em atuação soberba. Paralelamente elas refletem sobre suas vidas conjugais e as dificuldades de lidar com as pressões e solidões dos relacionamentos.

Juiz e réu

A direção segura de Edson Bueno deixa as moças à vontade para se aprofundarem em temáticas que oscilam entre a violência, a opressão e a fuga de estereótipos. "Quando monto um espetáculo, busco mergulhar em seu contexto, trazer uma dicção que também simbolize o que sinto sobre as questões apresentadas. Em Palavra de Mulher procurei compreender uma realidade que não é diretamente a minha, mas da qual faço parte inegavelmente. Apostei na contundência e na linguagem bruta", afirma o diretor.

O mérito maior da peça de Bueno, que também homenageia a atriz Andressa Christovão, morta recentemente, e que era muito próxima das atrizes da peça – Fábia Scholze e Vani Pampolini também estão excelentes dentro de seus recortes emocionais –, é o de trazer uma importante reflexão sobre a nossa atualidade, o teatro como alicerce para discutir o que precisa ser discutido, não apenas como representação e testes anódinos de linguagem: o palco sempre foi instrumento ideológico e provocativo.

É como dizia a feminista francesa François Poullain de La Barre, há mais de 300 anos: "Tudo o que os homens escreveram sobre as mulheres deve ser suspeito, pois eles são, a um tempo, juiz e parte". Ouçamos, pois, com atenção, os anseios e as ponderações feministas de uma peça honesta de princípios, intensa e vigorosa de execução.

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