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A Protagonista

A Protagonista

A política brasileira numa análise via American Horror Story 7

O que aquela foto do palhaço tem a ver com a manifestação do dia 26?

Poucas coisas resistem à esculhambação no Brasil. Muitas vezes é proposital. Em outras, como esta, a falta de talento aliada à ausência de senso crítico transformou um dos maiores símbolos da manipulação política da culpa pelo terror em uma versão patética da Vovó Mafalda.

Você já deve ter visto entre os convites e comentários sobre a passeata chapa-branca do dia 26 nas redes sociais algumas imagens de palhaços, todas elas oriundas de um único vídeo, executado de maneira rudimentar por uma conta que imita o nome de uma produtora de filmes pornô B - sim, não falta mais nada.

Evidente que chegar nesse ridículo não era o objetivo da galera, foi consequência de toda essa competência reunida. O intuito era colocar medo e fazer com que gente que sequer tem coragem de mostrar a cara para emitir opinião tenha a falsa sensação de importância e até mesmo tente sequestrar a pauta dos primeiros organizadores.

Muitos dos que participam da distribuição desse tipo de imagem se dizem "Fashwave" ou "Vaporwave", que são coisas realmente existentes nos Estados Unidos. Mal copiadas, caem no deboche. Se ninguém os leva a sério na política pela falta de ideias além das de agredir alguém, estão perdendo o jogo estético também, ao copiar mal e porcamente algo que só surte o efeito desejado se feito com precisão.

Foi assim na ficção. Se você não assistiu a 7a Temporada de American Horror Story e se interessa por desvendar essa onda de manipulação agressiva na política, vale a pena. A história gira em torno de um sociopata fracassado, Kai, que fica empolgado com a vitória de Trump e decide montar um plano macabro para chegar ao poder.

A temporada tem o nome "Cult" porque a forma encontrada por ele, que não tem nenhuma justificativa racional para ser algo além da insignificância que é, é formar uma seita mesmo, com rituais, liderança inquestionável e ação altamente destrutiva, à la Charles Manson. A marca das ações é a fantasia à la Joker que, no caso da série, fica impecável e realmente assustadora.

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Por aqui, é evidente a falta de talento e experiência para copiar a tal estética. Por isso, a versão tupiniquim da estética Joker, presente no imaginário das seitas políticas, já ganhou o apelido de "Vovó Mafalda Tupperware", uma ironia sobre o nível de palhaço assustador ao qual conseguem chegar junto com uma corruptela da parte final dos nomes das tendências que tentam seguir.

De realmente semelhante com essa estética de parte da alt-right norte-americana, só o comportamento mesmo. São muito agressivos, sentem-se gênios incompreendidos, têm delírios de poder e operam a política numa frequência que oscila entre a manipulação de culpa, medo e terror.

Não são propriamente agentes políticos: nem mobilizam em prol de algo produtivo nem têm capacidade realizadora. Operam, à semelhança da série, como uma espécie de culto que transforma as frustrações cotidianas e profundas em sensação de poder e potencial destrutivo.

É difícil entender quais as razões que levaram essas pessoas a se expor ao dizer que irão à passeata chapa-branca do dia 26, embarcando numa organização feita por outras pessoas, muitas delas que sequer conhecem a existência desse grupo bizarro.

À semelhança da série norte-americana, o anonimato, se necessário escondendo até o próprio rosto, é indispensável para que os membros de uma organização dessas tenham coragem de agir ou que os líderes impulsionem os instintos violentos de seus seguidores. A verdade é que, sem a máscara do anonimato, o comportamento dessas pessoas tende a ser bem diferente e nem combina com ir às ruas dando a cara a tapa.

Mas a cereja do bolo é outra coisa. Costumo dizer que o Brasil é campeão mundial de 3 coisas: gambiarra, hipocrisia e esculhambação. Por aqui, transformaram os palhaços assustadores na Vovó Mafalda.

Sejamos justos, o personagem de Valentino Guzzo era bem mais assustador que a figura patética usada para tentar dar um clima de terror às passeatas, algo totalmente prescindível no atual estado de coisas. Mas a semelhança é inegável.

Por isso, no meio de toda essa crise política, inundada agora por grupelhos covardes, que não mostram nem a própria identidade mas querem bancar os valentões, tem gente com tempo de sobra para as montagens. Se quem levou a sério a história dos palhaços assustadores acabou com uma bela porcaria de resultado final, quem levou na brincadeira é um gênio.

Apreciem sem moderação:

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