Começa divertido, mas perde, progressivamente, a graça. O espectador que assiste a Habemus Papam pode até conjecturar se a intenção do ator e diretor Nanni Moretti não terá sido preparar o público para o desfecho (que é bom não antecipar qual é).
Habemus Papam leva o espectador ao interior do Vaticano, para a eleição de um novo pontífice. O cardeal Michel Piccoli é eleito por seus pares no conclave, mas vacila na hora da investidura. Consumido pela aflição, burla a vigilância vaticana e cai na noite, em Roma. A essa altura, a cúpula da Santa Sé já convocou um psicanalista para atender o papa. A bizarrice-mor está na cena da partida envolvendo os cardeais.
O doce esporte do poder. A cena devia ser muito divertida no papel. Como está filmada e montada, é longa, sem graça - e apelativa. O humor de Nanni Moretti torna-se complacente. Um crítico, tentando fazer-se de engraçadinho, fez a ligação com o hímen complacente, quando sua constituição, muito elástica, lhe permite se ajustar ao diâmetro do membro masculino. Pode-se metaforizar o conceito, vendo nele uma ideia não muito lisonjeira da mise-en-scène de Moretti. O júri do Festival de Cannes, no ano passado, presidido por Robert De Niro, deve ter percebido a complacência, o tom obsequioso. Habemus Papam não ganhou nada. Nem merecia, mas há controvérsia.
Na verdade, Habemus Papam merecia um prêmio, e um só, o de melhor ator, que De Niro e seus jurados atribuíram a Jean Dujardin, e ninguém reclamou, porque ele está mesmo fantástico (em O Artista), tendo iniciado, em Cannes, a trajetória vitoriosa que o levou ao Oscar. Mas Michel Piccoli é excepcional. Nos últimos anos, ele deixou de ser simplesmente um ator. Virou um ícone, uma espécie de entidade, conforme já havia mostrado sua interpretação sublime em Vou para Casa, de Manoel de Oliveira. O jornalista italiano Salvatore Izza, do jornal Avvenire, ligado à Igreja, pediu a excomunhão de Moretti por haver ousado tocar na instituição do papado - a pedra sobre a qual Cristo erigiu sua Igreja.
Serviço
HABEMUS PAPAM - Direção: Nanni Moretti. Gênero: (Itália-França/ 2011, 102 min.). Classificação: 12 anos.
- Confira como foi o debate sobre espaços de cinemas e programação de filmes em Curitiba
- Spike Lee deve filmar documentário sobre o Brasil
- 'Anjos da lei' chega ao cinema, 25 anos depois de revelar Johnny Depp
- Cine PE seleciona três curtas paranaenses
- Morre o cineasta e autor francês Pierre Schoendoerffer
Explosões em frente ao STF expõem deficiências da inteligência de segurança no Brasil
Barroso liga explosões no STF a atos de bolsonaristas e rechaça perdão pelo 8 de janeiro
Autor de explosões em Brasília anunciou atos nas redes sociais, se despediu e deixou recado à PF
Governo quer usar explosões para enterrar PL da anistia e avançar com regulação das redes
Deixe sua opinião