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Sai o humor, entra o suspense. No lugar de Nova Iorque, Londres. Em vez de jazz, ópera. Ponto Final, em cartaz a partir de hoje nos cinemas, é um Woody Allen atípico. Aos 70 anos, o diretor norte-americano deixou de lado alguns dos próprios clichês para produzir o filme mais tenso e sensual de sua carreira – sempre marcada pela mistura certeira de drama e comédia. Uma espécie de reinvenção, que lhe rendeu a vigésima primeira indicação ao Oscar (na categoria de melhor roteiro original).

Aqui, o cineasta não dá as caras como protagonista. Tampouco escala outro ator para reproduzir seus cacoetes (prática comum nos trabalhos dos últimos anos). Generoso, Allen entrega o ouro de bandeja para a dupla Jonathan Rhys-Meyers e Scarlett Johansson, desde já um dos casais mais quentes da década. Enquanto isso, por trás das câmeras, o diretor demonstra um timing perfeito na condução da trama, como se o gênero de suspense fosse uma constante em sua trajetória cinematográfica de 40 anos.

Obviamente, Ponto Final não chega a descaracterizar o estilo do diretor. Ainda estão lá os diálogos inteligentes, comentários mordazes, personagens cultos e cenários elegantes. Repete-se também, como em Crimes e Pecados (1989), a referência a Crime e Castigo, romance clássico do russo Dostoiévski sobre um homem angustiado pela culpa após matar duas pessoas e não ser descoberto. Desta vez, no entanto, o foco está em uma reflexão acerca da sorte – no caso, a sorte de se safar mesmo quando se vai contra os mais importantes valores morais da sociedade.

A história começa com a chegada do professor de tênis Chris Wilton (Rhys-Meyers, revelado em Velvet Goldmine) a um restrito clube londrino. De origem pobre e irlandesa, o rapaz largou a carreira como atleta profissional para realizar algo realmente importante na vida. Ele logo se aproxima de Tom (Matthew Goode), um jovem de linhagem rica que o introduz aos prazeres da aristocracia. E o apresenta para sua irmã, Chloe (Emily Mortimer), com quem Chris rapidamente engata um romance.

Fica claro, desde o início, que a moça não passa de um passaporte para a ascensão social do ex-tenista. Chloe é correta, apaixonada e extremamente prestativa – a ponto de recomendar ao pai que o namorado ingresse nas empresas da família. Porém, não possui a intensidade necessária para conquistar um sujeito tão inquieto. Não à toa, Chris fica desorientado ao conhecer a bela Nola (Johansson, de Encontros e Desencontros e A Ilha), a nova conquista de Tom. Atriz americana em busca de reconhecimento em Londres, ela é a anti-Chloe: sexy, maliciosa, espontânea, imprevisível.

Os dois iniciam um caso arrebatador, que, entre idas e voltas, arrasta-se por meses e sobrevive inclusive ao casamento de Chris (agora um executivo promissor) e Chloe. Mas há sempre um preço a ser pago quando se quebra as regras, e é aí que o filme realmente começa a pegar fogo. Como era de se esperar, um crime vai marcar a trama – e nada mais pode ser dito, para não estragar a surpresa.

Prova do vigor de um cineasta septagenário, Ponto Final é também uma aula de técnica narrativa. E, ainda, um programa altamente indicado para quem tem os dois pés atrás com Allen. Aliás, alguém percebeu que o trailer exibido na tevê sequer menciona o nome do diretor? Definitivamente, um Woody Allen para além do seleto clubinho de fãs. GGGG

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