"Fala-se em novela de época. Prefiro dizer novela sobre uma época, porque estou me reportando à memória. Trabalhamos com uma luz tênue sobre os objetos, para suavizar volumetria e forma. É um caminho para desacelerar o aspecto real do vídeo, que traz uma dureza vitrificada e com muita profundidade."
Walter Carvalho, fotógrafo e cineasta.
Disputado a tapa pelos cineastas brasileiros, graças a um currículo que o estabeleceu entre os maiores diretores de fotografia da América Latina, o paraibano Walter Carvalho está de regresso a um terreno no qual fez história na década de 1990: as telenovelas. É ele o supervisor técnico do visual de Lado a Lado, nova novela das 18 horas da TV Globo. Um padrão de iluminação que valoriza detalhes de objetos em cena, preservando os personagens numa narrativa intimista, foi adotado pela direção de Dennis Carvalho para retratar o Rio de Janeiro do início do século 20. Foi essa a sugestão de Carvalho, que fotografou longas-metragens aclamados como Central do Brasil (1998), Lavoura Arcaica (2001) e o recente Febre do Rato (2011).
"Meu trabalho é fugir do tom de cor sépia usado nos épicos históricos. A gente investiu numa luz que tenta apagar os elementos, para que as essências dos personagens transcendam suas figuras. Eu não vim fazer cinema na tevê. Isso seria um erro. Eu vim porque acredito que exista televisão bem feita, que arrisca", diz Carvalho.
Hoje com 65 anos, ele dá consultoria à equipe de fotógrafos de Lado a Lado, chefiada por Daniel Santos. Já na estreia, há sete dias, o drama de época escrito por Cláudia Lage e João Ximenes Braga abocanhou elogios da crítica por seu apuro fotográfico.
"Minha primeira experiencia como fotógrafo em teledramaturgia foi nos anos 1980, com a extinta Quarta Nobre. O maior desafio de trabalhar com teledramaturgia é saber que sua audiência alcança milhões de pessoas, ao mesmo tempo, em todo o país, durante uma hora por dia, de segunda a sábado. Pensar na construção do visual de uma novela e manter a trajetória de um olhar durante meses é tão delicado quanto pensar na imagem de um longa. É como disse o artista plástico Francis Bacon: Proporcionar emoções sem o tédio da comunicação", alega Carvalho, que, no posto de cineasta, lançou neste ano o documentário brasileiro de maior público desde 2005: Raul, o Começo, o Fim e o Meio visto por 170 mil pagantes.
Excelência
Veio dele a excelência digna dos filmes de Terrence Malick (um dos maiores estetas cinematográficos, realizador de A Árvore da Vida) impressa em novelas consideradas marcos como Renascer (1993) e O Rei do Gado (1996), seu derradeiro trabalho em folhetins. Em ambos, ele foi dirigido por Luiz Fernando Cavalho, hoje envolvido nas gravações do seriado Subúrbia, que estreia na Globo em 1.º de novembro.
"Walter é um mestre da luz. Na época da novela Renascer, eu tinha a preocupação de diminuir as luzes dos grides dos estúdios", lembra Luiz Fernando. "Eles jogavam muita luz do alto dos cenários, por cima dos atores, projetando sombras e um excesso de contra-luz, aumentando assim a sensação cenográfica do espaço. Eu queria diminuir ao máximo as luzes que vinham de cima, substituindo-as por refletores colocados no chão, na altura dos olhos dos intérpretes. Foi o Walter quem fez esta passagem."
Agenda lotada
Com uma agenda cinematográfica lotada, Carvalho ainda trabalha na tevê na fotografia do programa de entrevistas Sangue Latino, apresentado pelo escritor Eric Nepomuceno e exibido toda quarta-feira, às 21h30, pelo Canal Brasil.
Fora da televisão, Carvalho, exultante pelo êxito de Raul, milita em três novos longas, todos na fronteira documental. Em Brincante, ele retrata o músico e saltimbanco Antonio Nóbrega. Em O Desmaio da Planície, traça uma biografia estética o poeta Armando Freire Filho; e Filme de Cinema, no qual entrevista diretores de diferentes países sobre a linguagem audiovisual.
Governadores e oposição articulam derrubada do decreto de Lula sobre uso da força policial
Tensão aumenta com pressão da esquerda, mas Exército diz que não vai acabar com kids pretos
O começo da luta contra a resolução do Conanda
Governo não vai recorrer contra decisão de Dino que barrou R$ 4,2 bilhões em emendas