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“O público tem que estar interessado em conhecer e se doar a essa música. Dessa forma, não há distâncias.” Zubin Mehta, maestro |
“O público tem que estar interessado em conhecer e se doar a essa música. Dessa forma, não há distâncias.” Zubin Mehta, maestro| Foto:

A Orquestra Filarmônica de Israel, que se apresenta no Teatro Positivo no dia 17 de agosto, é reconhecida historicamente por abrigar alguns dos melhores músicos do mundo. Antes mesmo de ser fundada, em 1936, seus precursores precisaram de três anos para convencer os mais qualificados musicistas da Europa Ocidental e da Alemanha a emigrarem para Israel.

Para reger grandes músicos, seria necessário um grande maestro. O indiano Zubin Mehta está há 41 anos à frente do grupo. Desde a primeira regência, então com 25 anos, Mehta estabeleceu uma ligação estreita com a orquestra. Mesmo durante crises políticas e guerras na região de Israel, o maestro não hesitou em fazer música. Chegou a comandar seus músicos em linhas de frente, na fronteira com o Líbano, e em outras comemorações nacionais como o concerto em Massada (Israel) em outubro de 1988, quando regeu a Sinfonia nº2, de Mahler.

Por esses e outros feitos, Zubin Mehta, hoje com 73 anos, recebeu condecorações como a Ordem do Lotus, na Índia. Em Israel, é Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Tel Aviv e Hebraica de Jerusalém e pelo Instituto Weisman.

Atualmente, Mehta também é diretor artístico da Orquestra do Festival Maggio Musicale Fiorentino, na Itália. Foi também diretor artístico da Orquestra Filarmônica de Nova York, de 1979 a 1991 – o período mais longo de um regente naquela função na história da orquestra. De seu apartamento em Telaviv, em Israel, Mehta conversou por telefone com a reportagem da Gazeta do Povo. O maestro recorda o encontro com Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e, surpresa, confessa que ouve rap.

O senhor acha que os termos "música clássica" e "música erudita" podem ser obstáculos naturais para aqueles que desejam se aproximar do gênero, mas têm pouco conhecimento sobre ele?

Depende. O público tem que estar interessado em conhecer e se doar a essa música. Dessa forma, não há distâncias. Às vezes, as pessoas não conhecem as peças musicais, mas as descobrem em concertos. Então, em música erudita, os sensos de descoberta e de interesse é muito importante algumas vezes.

Se, na sua opinião, a música clás­­sica pode ser bem apreciada por quem tiver interesse e vontade, o preço dos concertos não seria uma outra dificuldade?

Isso às vezes. Mas muitos dos concertos não são caros e as pessoas que tem menos dinheiro e se interessam por música podem ir. Isso depende do país em questão.

Como o senhor vê o gênero hoje, em relação à sua disseminação e produção?

Ela está mais forte hoje do que nos séculos 17 e 18, por exemplo. Nessa época, os melhores músicos tocavam para classes mais altas. Hoje, todo mundo ouve música, seja da forma que for. A música clássica, a boa música, nunca vai morrer. Os concertos estão sempre cheios. O de hoje mesmo (15 de julho), que fizemos aqui em Israel, serve de exemplo. Tocamos para um teatro completamente lotado.

Alex Ross, crítico de música erudita da revista The New Yorker, diz que odeia o termo música clás­­sica. A expressão seria "uma pérola da propaganda negativa" e a palavra "clássica" estaria ligada à "morta".

Não acredito nisso de maneira nenhuma. O Alex deveria viajar um pouco mais, sair mais de casa para ver o que está acontecendo. Talvez isso seja verdade lá em Nova York, mas, nos outros lugares, não. Veja o Brasil, por exemplo.

O senhor é reconhecido também por sua forma quase performática de conduzir orquestras e de se relacionar com o pú­­blico. A música clássica, en­­tão, poderia ser pop em algum sentido ou isso é uma incongruência em termos?

Acho que as diversas músicas, como as pessoas que as ouvem, podem conviver juntas. Eu estou em Israel. Às vezes, toco para comunidades árabes e, de repente, vou ao Brasil, onde há uma riqueza musical muito grande. Nos concertos, vão pessoas diferentes e isso é maravilhoso. É o poder da música.

Há diferenças na maneira de conduzir uma orquestra na Europa e no Brasil? O senhor age de forma diferente?

Não. Os brasileiros amam muito a música, inclusive a música erudita. Mesmo quando fomos à Bahia, o concerto foi muito estusiasmado. Os lugares e o público que comparecia eram ótimos. Eu não mudo o meu jeito de conduzir a orquestra porque música é música.

E o público? Sente diferenças entre o comportamento de plateias europeias e sul-americanas?

Não há diferenças. O público em toda a América do Sul é ótimo. Na Argentina, no Chile, é maravilhoso. No Brasil, há muita proximidade e calor humano. Nós esperamos isso de novo.

O senhor ouve outras coisas? Rock, jazz, bossa nova?

Ouço rap às vezes. O gênero tem muito valor. Ele começou nos bairros negros das cidades americanas. Os primeiros raps compostos foram sobre o sofrimento das pessoas negras nos Estados Unidos. E não é barulho. As palavras e as rimas são muito tocantes para mim. É mais ou menos como hoje, em que artistas mexicanos pintam os muros de Los Angeles em forma de protesto. Você está vendo que eles estão sofrendo, mas, ao mesmo tempo, colocando isso para fora de alguma forma. Rock, não ouço muito, e eu adoro jazz. Porque músicos de jazz são músicos de verdade.

O senhor conheceu o maestro brasileiro Heitor Villa-Lobos. Como foi esse encontro?

Eu o conheci nos Estados Unidos. Ele ia se apresentar antes de mim. Havia muitos brasileiros na escola onde eu lecionava e eles me apresentaram ao maestro. Gosto muito de suas músicas. As Bachianas, especialmente. É maravilhoso como ele conseguiu se ligar ao folclore brasileiro. Ele tirou coisas do Brasil para encaixar na música clássica. Essa ideia era muito original na época.

O senhor já esteve muitas vezes no Brasil. Como é a relação com o país?

Sim, estive muitas vezes aí, nem lembro quantas. Eu amo esse país. A primeira vez que fui ao Brasil foi com minha esposa, quando estávamos de férias. Nós fomos para o Rio Araguaia e para a Ilha do Bananal. Isso foi em 1972. Foi maravilhoso.

Algo especial? Do que gosta mais do Brasil?

Eu gosto das pessoas, do clima, da música. Dos teatros e do público.

Como foi seu início na música, na Índia?

Foi com meu pai. Ele era um violinista autodidata e a música sempre esteve dentro da minha casa.

Em suas apresentações na Ame­­rica Latina (Brasil, Uruguai e Chile) em agosto, a orquestra irá tocar várias composições de Strauss e Beethoven. O senhor poderia explicar sua relação com eles compositores? São eles seus favoritos?

Não são. Eu gosto muito de Strauss (1864-1949) e não podemos viver sem Beethoven (1770-1827). Nossa orquestra toca todas as sinfonias de Beethoven. Então pegamos ao menos uma cada vez que estamos em turnê. Às vezes duas, ou três peças de Strauss. Mas a escolha do repertório tem a ver com a produção em cada cidade em que nos apresentamos. Nós também escolhemos Mahler (1860-1911), mas os brasileiros não gostam de Mahler, e eu não sei por quê. Nós tínhamos a 9ª Sinfonia, de Mahler, para oferecer, mas eles não escolheram essa.

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Serviço

Orquestra Filarmônica de Israel. Teatro Positivo – Grande Auditório (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300), (41) 3317-3283. Dia 17 de agosto, às 20h30. Ingressos de R$ 204 a R$ 604 (inteira) e de R$ 104 a R$ 304 (meia).

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