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O fim do conflito com o Paquistão deu a Bangladesh sua independência em 1971, mas deixou o país em estado de miséria. A situação era tal que o citarista Ravi Shankar – o bengali mais famoso do mundo à época e ainda hoje – decidiu que faria qualquer coisa para ajudar sua terra natal. Contou suas aflições ao amigo George Harrison (1943 – 2001) sem se dar conta de que lançaria a idéia para o primeiro concerto beneficente da História.

O ex-beatle fez meia-dúzia de ligações e mobilizou alguns amigos para o 1.º de agosto de 1971. No palco do Madison Square Garden, em Nova Iorque, se reuniram Eric Clapton, Ringo Starr, Billy Preston e Leon Russell, além dos reverenciados Ali Akbar Khan e Alla Rakha que, com Shankar, formavam o trio sem igual da música do subcontinente indiano. Foram duas apresentações. Uma às 14h30 e outra às 20 horas. Na segunda, surgiu o convidado-surpresa: Bob Dylan.

A reunião rendeu cerca de US$ 250 mil e, quatro meses depois, um belo álbum triplo – o segundo de Harrison, que havia lançado All Things Must Pass no ano anterior. O dinheiro da venda dos discos também seria revertida à causa bengali. O vinil foi remasterizado, virou um CD duplo, ganhou faixa bônus e, hoje, beneficia a Unicef. The Concert for Bangladesh (Sony/BMG) acaba de chegar ao Brasil em edição irretocável, acondicionada em uma caixa de papel cartão e com livreto colorido de 36 páginas, reunindo fotos e informações do show. De quebra, lançaram também um DVD duplo, com bastidores e entrevistas inéditas.

A capa original, de uma criança com olhar adulto – típico de alguém que sofreu horrores que não merecia –, ilustra o material interno. Na caixa, optaram por uma foto de Harrison. A faixa adicional é duas-em-uma, se chama "Love Minus Zero/No Limit" e reforça o set apresentado por Dylan, que cantou as emblemáticas "Mr. Tambourine Man" e "Blowin’ in the Wind".

Não bastasse os valores histórico e social de Concert for Bangladesh, a música é para se ouvir de joelhos. Talvez a razão pela qual se reuniram, ou talvez a química entre todos no palco – afinal, muitos eram camaradas de longa data –, rendeu momentos antológicos. A versão de "While My Guitar Gently Weeps" é grandiosa. Contando os metais (seis) e os vocalistas de fundo (outros seis), eram 27 pessoas no palco. O que acontece é uma espécie de passeio de Harrison por composições que fizeram dele a alma dos Beatles ("Something" e "Here Comes the Sun") e, mais tarde, um símbolo da música ligada à espiritualidade ("My Sweet Lord").

O instrumento e a música indiana eram pouco conhecidos nos anos 70. Chama a atenção o cuidado com que Harrison apresenta ao público o trio liderado pelo citarista Ravi Shankar. "Como vocês devem imaginar, a música indiana é um pouco mais séria do que nossa música, então peço que vocês se assentem e tentem assimilá-la", disse. Em seguida, o próprio Shankar – mais conhecido hoje por ser pai de Norah Jones – pede ao público paciência para ouvir um tipo de música que exige "audição concentrada" e começa "Bangla Dhun", dueto com Ali Akbar Khan no sarod.

Harrison levou os Beatles a Índia e apresentou a música indiana ao mundo. Por meio de sua gravadora, a Dark Horse, lançou Ravi Shankar na Europa e nos EUA. Assim se tornaram amigos. Embora menos sério, o rock se beneficia da atmosfera criada no concerto pelos instrumentistas indianos. Faz Harrison e Dylan parecerem pregadores diante de um público que crê. GGGGG

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