Listas e eleições de "melhores de todos os tempos" se tornaram mania nos últimos anos. Vira e mexe, jornais e revistas publicam novas relações de discos, filmes, livros e artistas que, de alguma forma, influenciaram a cultura pop. Do outro lado do balcão, os fãs defendem e criticam os resultados apaixonadamente, como se discutissem futebol.
Para alguns, a moda veio junto com o sucesso do escritor britânico Nick Hornby (Alta Fidelidade, Um Grande Garoto), famoso por elaborar listas do gênero e colocá-las na boca de seus personagens. Outros, como o jornalista paulista Alexandre Petillo, preferem chamar a atenção para um "problema" contemporâneo: a falta de ídolos.
"Não há mais ídolos para estampar na capa das revistas. E a saída para vender são as listas, que sempre causam polêmica e discordância", diz Petillo, criador da extinta revista Zero e atual editor do caderno de cultura do jornal goiano Diário da Manhã. Ele mesmo acaba de lançar um livro nessa linha: Noite Passada um Disco Salvou Minha Vida 70 Álbuns para a Ilha Deserta (Geração Editorial, 304 págs., R$ 29,90), no qual personalidades brasileiras escrevem sobre seus discos de cabeceira.
Organizador do volume, Petillo reuniu relatos pessoais de 70 artistas, jornalistas, escritores e publicitários (a maioria desconhecida do grande público). O resultado é um apanhado de memórias afetivas, algumas delas reveladoras. O cantor Léo Jaime, por exemplo, fala de seu doloroso envolvimento com drogas no texto sobre Wings over America (do grupo Wings, liderado por Paul McCartney após o fim dos Beatles). Washington Olivetto comenta sua amizade com Jorge Benjor, que lhe dedicou a faixa "W/Brasil", incluída em Ao Vivo no Rio. Lulu Santos surpreende ao escolher o primeiro disco de Gabriel O Pensador, sua porta de entrada para a linguagem musical dos DJs. E por aí vai...
Ausência
Os Beatles são os artistas mais citados no livro, que traz apenas dois álbuns "repetidos": Standing on a Beach (The Cure) e Nevermind (Nirvana), ambos escolhidos por duas pessoas. Por outro lado, nomes do calibre de Caetano Veloso e Gilberto Gil, assim como outros medalhões brasileiros, sequer são citados. Mas o mote, aqui, não é o tom "eleitoral", como explica o autor. "Os textos tratam de redenção, alegria, tristeza, bons momentos, renascimento, amor. As pessoas falam sobre discos e, ao falar deles, falam da vida", afirma Petillo, que no momento prepara a biografia autorizada do grupo paulista Ira!.
Aproveitando o gancho, o Caderno G convidou quatro figuras do cenário cultural de Curitiba para falar sobre seus álbuns preferidos. Confira no quadro ao lado um pouco da memória afetiva de gente que tem os discos como verdadeiros companheiros de jornada. Como diria Nick Hornby: "Essa música sabe como me sinto e quem eu sou".